Dia Internacional da Mulher
Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, Sem Barreiras opta por dar voz à mulher com deficiência. São séculos de luta por mais respeito da sociedade, melhores condições de trabalho, igualdade salarial e de cidadania. No entanto, essas dificuldade são elevadas quando tratamos da mulher com deficiência. Além de todas barreiras sociais, sexuais e emocionais que elas precisam transpor, há ainda as barreiras arquitetônicas e de direitos fundamentais do ser humanos. Para representar a luta da mulher com deficiência, Sem Barreiras publica artigo da Deputada Federal Mara Gabrilli (PSDB/SP), enviado, gentilmente, por e-mail. A todas as mulheres, com deficiência ou não, nosso respeito, nossa admiração e nossos agradecimentos. Segue o texto:
Por Deputada Federal Mara Gabrilli (PSDB/SP)
Há exatamente 83 anos, após travar inúmeras reivindicações e lutas, a população feminina no Brasil finalmente conquistava o direito ao voto. A decisão tomada no governo Vargas garantia também que nós pudéssemos ser eleitas para cargos legislativos e executivos. Passado tanto tempo, o que temos de fato a celebrar neste Dia Internacional da Mulher?
Desde o ano passado, após muitos entraves, finalmente, um deputado cadeirante pode discursar direto da Mesa Diretora do plenário da Câmara dos Deputados, que depois de 60 anos tornou-se acessível. Tive a honra de inaugurar o espaço presidindo uma sessão. Ali falei em nome dos 45 milhões de brasileiros com deficiência, que por décadas foram colocados à margem, inclusive, do cenário político.
Toda essa luta para acessibilizar o plenário surtiu resultados importantíssimos que vão além da questão da pessoa com deficiência. Foi com o plenário – agora totalmente acessível – que iniciamos este ano uma legislatura muito mais democrática. Pela primeira vez na história da política brasileira teremos duas mulheres na Mesa Diretora da Câmara: eu, comandando a terceira secretaria, e a deputada Luiza Erundina, como terceira suplente.
O fato de uma tetraplégica poder participar de todas as decisões da Mesa garante não só protagonismo da mulher, mas perpetua o respeito a todas as diferenças. De certa forma, a população feminina pode se sentir, acessando espaços antes não alcançados. Em todos os sentidos. Primeira tetraplégica a usar o sistema de voto que funciona por meio do movimento facial, passei, enfim, a assistir o meio se adaptando não só à igualdade de gêneros, mas à diversidade humana. E essa mudança, de maneira coerente, aconteceu na Casa que aprovou a Lei de Acessibilidade – legislação que em sua essência busca a igualdade de direitos.
Hoje, a bancada do PSDB está mais feminina e também mais protagonista, arrojada. Temos deputadas muito jovens e competentes dispostas a lutar por seus estados e por todo o Brasil. Mas, as conquistas não estão só no âmbito político. Muitas mulheres, das mais diferentes áreas de atuação, servem de apoio e inspiração para o meu mandato. Em São Paulo, por exemplo, a maioria das lideranças de bairro é formada por mulheres. Brigam por direitos de seus filhos, de suas comunidades, dos filhos do Brasil. Muitas carregam consigo virtudes que muitos políticos deveriam ter: sensibilidade e forte envolvimento com questões sociais.
Claro que temos muito a fazer e conquistar ainda. A discriminação com base no gênero ainda acontece e é fruto de uma sociedade sexista, que ainda tem muito a evoluir em termos de educação, inclusive de formação política e cidadã. E as escolas têm papel fundamental para alavancar neste sentido, ensinando os jovens a participar da política e votar conscientemente.
Ao me candidatar e posteriormente assumir um cargo público, sofri alguns preconceitos. Os obstáculos, no entanto, não surgiram pelo fato de ser uma mulher, mas por querer trabalhar corretamente, por defender uma causa que há muito tempo foi ignorada. E por pura falta de informação.
É inevitável que surjam pessoas avessas a novas ideias e conceitos. Mas temos mulheres e muitos homens também dispostos a trabalhar por uma política diferente, que valoriza o ser humano antes de qualquer número.
Entrei na política por conselho da minha mãe, que acreditava na minha capacidade de mudar a vida das pessoas. Mas, é do meu pai, que sempre foi empresário e uma figura amada por seus funcionários, que trago a habilidade para gerir com pulso firme, mas sem deixar de lado o amor pelo ser humano.
Acredito na força e competência das mulheres para resolver problemas que podem parecer insolúveis em uma gestão pública. Mas, não podemos esquecer que são essas mulheres também as responsáveis por educar filhos mais comprometidos, sensíveis e humanos para cuidar do nosso país e das pessoas.
Mara Gabrilli, 47 anos, é publicitária, psicóloga, foi secretária da Pessoa com Deficiência da Prefeitura de São Paulo, vereadora na Câmara Municipal de São Paulo e atualmente é Deputada Federal pelo PSDB paulista, reeleita em 2014 com 155.143 votos. Em outubro de 2013, lançou pela editora Saraiva a biografia ‘Depois daquele dia’, escrito pela jornalista Milly Lacombe. Em 20 de agosto de 1994, Mara Gabrilli sofreu um acidente de carro que a deixou tetraplégica. Passou cinco meses internada – dentre os quais dois em respirador artificial – e recebeu uma nova condição para a vida: a impossibilidade de se mexer do pescoço para baixo. Mais informações em seu site pessoal – clique aqui.
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