Obstáculos a serem enfrentados por estudantes com deficiência
Para que Mauro Reis Albuquerque, 22 anos, pudesse participar de uma mesa de debates, todos os participantes precisaram descer para o andar térreo onde ele estudava. Neyara Rebeca Lima, 25, depende de amigos que a ajudem no deslocamento entre a entrada do campus e a sala de aula. Geovânio Ferreira da Silva, 45, aguarda há anos o dia em que poderá ler seus autores preferidos usando o alfabeto braille. Universitários e com alguma deficiência, os três ainda lidam com problemas que impedem a acessibilidade em instituições de ensino superior e que se tornam obstáculos a serem vencidos no processo educacional.
Estudantes com deficiências de visão, audição, física e intelectual encontram barreiras pedagógicas, arquitetônicas, tecnológicas, linguísticas e de comunicação dentro das universidades. Mesmo com ações institucionais já em desenvolvimento – a maioria ainda de forma tímida -, o atraso acumulado durante décadas sem iniciativas limita quem quer aprender. Os problemas de acesso ao e no sistema de ensino superior remetem à educação básica que, por anos, também não colocou em prática a palavra inclusão.
Acessibilidade
Neyara lembra quando o ensino de informática começou na escola e o professor disse não saber “o que fazer” com ela durante as aulas. Hoje, com apenas 5% de visão em um dos olhos, ela cursa Letras-Italiano na Universidade Federal do Ceará (UFC). Durante o primeiro semestre, em 2011, quando ainda não conhecia a secretaria de acessibilidade da instituição, sem a disponibilidade de textos traduzidos, Neyara procurava livros, em braille, que tivessem proximidade ao assunto discutido em aula. “Não sabia que havia a tradução, ninguém me disse quando eu entrei”.
A necessidade de companhia para percorrer os centros da UFC, porém, nunca mudou. “Existem vários prédios e no meio tem uma população de carros. Já fui até atropelada. As rampas não têm sinalização, você as acha por acaso, nas calçadas”, analisa. A vontade de ser independente e igual aos outros alunos fez Neyara estudar um ano em Portugal, em 2014, e viver em condições estruturais adequadas.
“Lá eu mesma ia para aula e procurava minha sala. Os prédios tinham uma localização mais lógica, muitas rampas, elevadores exclusivos para pessoas com necessidades”, conta.
Saiba mais
Há atualmente 49 estudantes com necessidades específicas na UFC. Sete deles têm deficiência visual, 28 apresentam problemas auditivos/surdez e 12 têm limitações físicas. O Centro de Humanidades é a unidade acadêmica que possui mais estudantes com deficiência, somando 34 alunos. Em seguida, vem o Centro de Ciências, com cinco. Após ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal, a universidade deverá, até 2016, adequar a acessibilidade todos os seus espaços.
Mudanças na UFC têm se dado de forma lenta. Em 1996, o jornalista Victor Vasconcelos, hoje é editor de um site sobre deficiências, precisou lutar para que elevador fosse construído e o levasse aos andares superiores do prédio onde ficam os laboratórios do curso, no Benfica. “Foram aproximadamente dois anos até que o elevador fosse construído”, conta. Houve abaixo-assinados e inserções na imprensa até haver solução.
Alguns prédios do campus já têm elevadores, mas segundo o estudante de Psicologia Mauro Reis, não funcionam a contento. “Meu prédio tem três andares. Não tem rampa, só elevadores que quase nunca funcionam. Precisei adaptar encontros de grupos e reuniões, pedindo para as pessoas descerem”. Para Mauro, a universidade deveria priorizar a inclusão.
* Matéria da jornalista Sara Oliveira, do Jornal O Povo
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