Mr. Holland – Adorável Professor
Assisti ao filme Mr. Holland – Adorável Professor (Mr. Holland’s Opus – 1995) pela primeira vez, há alguns anos, não sei precisar exatamente quando. Porém, ele me chamou a atenção pela temática e, especialmente, pela atuação do ator Richard Dreyfuss, que faz o papel-título. Ele é um professor de música de uma escola de segundo grau do interior do Estado do Oregon. No passado, foi um compositor e músico de relativo sucesso, que aceitou o cargo na escola para ficar mais perto da esposa Iris (Glenne Headly) e para realizar seu grande sonho de vida: compor uma sinfonia. Mr. Holland é uma pessoa que tem a música no patamar mais alto de sua vida e alguém que acredita que as artes são o único caminho para elevar o espírito e construir uma sociedade mais justa e igualitária. Isso se evidencia no final do filme quando ele, aos 60 anos, é comunicado pelo reitor da escola, Gene Wolters (William H. Macy), que os departamentos de música, artes e teatro serão fechados devido a problemas orçamentários.
O filme conta também com uma personagem deliciosa de se assistir, Rowena Morgan (Jean Louisa Kelly), uma aluna do professor Holland com uma voz encantadora e por quem ele sente uma atração, digamos, artística. No entanto, o verdadeiro motivo de estar escrevendo este texto é a abordagem que o filme faz da deficiência auditiva. Glenn Holland e Iris têm um filho, Coltrane ‘Cole’ Holland, que nasce surdo. Os pais percebem algo diferente e estranho na criança, que não reage a estímulos ou a chamamentos do seu nome. Ao levá-lo a um médico, descobrem sua deficiência. Mr. Holland tem dificuldades de aceitar e entender a realidade do filho. Ele jamais imaginou que um filho seu não poderia saborear a música com ele, desfrutar dos prazeres da arte. Assim, ele se aproxima cada vez mais de seus alunos e se distancia da família. A mãe, certo dia, fala em matricular o garoto em uma escola especial para surdos, encontrando resistência no professor. Ele acredita que aprender a linguagem de sinais irá dificultar ainda mais o garoto aprender a falar. “Você passa seus dias com seus alunos normais enquanto eu estou aqui com ele, incapaz de conversar com meu filho, saber o que ele pensa, o que ele sente, dizer a ele o quanto eu o amo”, disse a mãe em uma acalorada discussão com o marido.
Cole é matriculado na escola e os pais, especialmente Iris, também aprendem a linguagem de sinais. Mr. Holland continua com dificuldade em se comunicar com o garoto. O auge ocorre quando da morte de John Lennon, em 1980. Mr. Holland chega em casa arrasado e se recusa a ouvir o que o filho tem a lhe dizer, argumentando que ele não entenderia a tristeza que sentia naquele momento. O rapaz, agora com 15 anos, se revolta e tem uma discussão áspera com o pai, dizendo que ele nunca o respeitou, nunca se interessou em conhecê-lo e que prefere seus alunos a ele. Cole fala que sabe quem é John Lennon, quem foram os Beatles, sabe o que é música, mas o pai jamais percebeu isso. Essa discussão é como um tapa na cara do velho professor, que vai até a escola do filho e organiza uma apresentação musical com a diretora, direcionada às crianças com surdez. Ao final, ele canta uma música de John Lennon, Beautiful Boy (Lindo Garoto), para Cole, uma cena realmente emocionante e tocante. A segunda metade do filme pode ser descrita com essas duas palavras, emocionante e tocante. Não só nesse episódio específico, mas também na relação de Holland com a jovem Rowena, uma linda garota de 23 anos, com uma voz maravilhosa, que o convida para acompanhá-la até Nova Iorque. Ele é confrontado entre a oportunidade de retomar sua carreira musical ao lado de uma jovem por quem se sente atraído e permanecer onde está, ao lado de sua esposa e filho.
O final do filme pode ser considerado meio óbvio, meio clichê. Contudo, destaco uma frase da então Governadora do Oregon, Gertrude Lang, ex-aluna de Mr. Holland, convidada para uma homenagem especial a ele. “O senhor não é rico nem famoso e nunca compôs sua sinfonia. Talvez se sinta frustrado por isso. Mas, não se sinta. Todos nessa sala foram, de alguma forma, influenciados pelo senhor. Nós somos sua sinfonia” e anuncia a estreia de An American Symphony, uma orquestra composta por ex-alunos de Glenn Holland, conduzida por ele, encerrando assim o filme. An American Symphony foi composta por Michael Kamen que, em 1996, criou a The Mr. Holland’s Opus Foundation (MHOF – acesse aqui), visando ao futuro da música na educação dos jovens. Richard Dreyfuss foi indicado ao Oscar de Melhor Ator e ao Globo de Ouro na mesma categoria, por sua atuação como Mr. Holland, mas merecem destaque também Glenne Headly como a esposa e Joseph Anderson, que interpretou Cole aos 15 anos. A direção é de Stephen Herek.
Sem nenhum comentário