A saúde dos adolescentes
O universo dos adolescentes tem peculiaridades muitas vezes difíceis de entender, mesmo para pais experientes. São milhões de hormônios em explosão, um ritmo alucinante de desenvolvimento que mostra seus sinais sob a forma de comportamentos esdrúxulos, crescimento desordenado de braços e pernas, variações de humor, etc.
Como vamos falar de adolescentes com deficiência intelectual, precisamos lembrar que seguramente o jovem com Síndrome de Down (assista aqui vídeo especial de Sem Barreiras sobre o Dia Internacional da Síndrome de Down e se inscreva em nosso canal) não terá um desenvolvimento semelhante aos demais adolescentes de sua idade. A estatura tende a ser menor, o aumento de peso pode ser preocupante e os comportamentos também serão diferentes, o que exigirá um esforço adicional dos pais para a sua socialização.
Como a proposta desta coluna é passar um ponto de vista a partir da experiência dos pais, vou caminhar sem pressa por cada um dos aspectos que envolvem esta fase da vida das pessoas com a Síndrome de Down. Vamos primeiramente dar uma visão geral sobre a saúde, copiando as orientações das diretrizes do Ministério da Saúde (clique aqui):
“O cuidado com a saúde do adolescente com SD deve estar focado na manutenção de um estilo de vida saudável (alimentação, imunização, higiene do sono e prática de exercícios), no desenvolvimento da autonomia para as atividades de vida diária e atividades de vida diária instrumental, auto-cuidado, socialização, escolaridade e orientação vocacional. Deve ser dada uma atenção aos distúrbios emocionais/psiquiátricos tal qual Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Nesta fase devem ser orientados quanto à sexualidade e prevenção de gravidez e doenças sexualmente transmissíveis.”
Um excelente resumo, sem dúvida alguma. Vou aproveitá-lo para dissecar cada um dos pontos, compartilhando o que tenho descoberto ao longo da minha caminhada. Alimentação saudável, por exemplo, é um desafio. A maior dificuldade é o próprio estilo de alimentação dos pais; se os pais comem mal, abusam de fast food e de comidas industrializadas, não se pode esperar que os filhos ajam de forma diferente. A tendência natural é que os jovens aprendam a gostar apenas daquilo que é oferecido (e consumido) em família.
Hipócrates, o pai da Medicina, já dizia: “Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio”. Uma dieta rica em fibras, verduras e produtos naturais proporcionará uma melhor qualidade de vida para os adolescentes, especialmente para aqueles que apresentarem uma hipotonia mais acentuada. A mesma flacidez muscular percebida nos membros pode aparecer também no músculo do sistema digestório (ou digestivo, como prefiram); ele pode ser mais ‘preguiçoso’ que em outros indivíduos, prejudicando uma boa nutrição e favorecendo um sobrepeso.
Aliada a uma boa alimentação deve estar a prática de atividades físicas com regularidade. Vivemos hoje na sociedade dos equipamentos eletrônicos, onde tablets, celulares e TVs substituem com frequência os esportes e brincadeiras coletivas. Não se pode excluir a parafernália eletrônica dos adolescentes, ela é fundamental para o seu processo de inclusão social. Mas é de extrema importância a oferta de atividades prazerosas, como natação, futebol, balé, basquete, karatê e outras artes marciais, Ioga, dança, zumba, a lista é infinita. Mesmo assim, é comum vermos que as atividades aeróbicas não fazem parte da rotina de adolescentes com deficiência, o que é muito prejudicial.
Com minha filha eu sempre tentei utilizar as opções que estavam mais próximas de sua rotina: natação e balé na própria escola, ao final da aula; natação em um clube próximo de casa; karatê na mesma academia onde o irmão praticava… E por aí vai. O esporte auxilia na compreensão do relacionamento social, da aceitação de regras e disciplina, no desenvolvimento global, enfim, uma lista enorme de benefícios. Aliando a prática constante de esporte com uma boa alimentação, você já terá 50% de sucesso no desafio de criar seu filho.
O Ministério da Saúde ressalta também a importância da higiene do sono, que nunca pode ser inferior a oito horas diárias (o ideal é que oscile entre oito e dez, nesta fase), e da vacinação, que também tem algumas peculiaridades, confira e certifique-se que o seu médico conhece essas orientações.
Na próxima coluna vamos falar sobre autonomia, escolarização, socialização e outros desafios de extrema importância para os pais de adolescentes. Apenas dando um exemplo, esta semana minha filha esteve em shopping centers, na Câmara Municipal de Fortaleza, no Porto Iracema das Artes e no Dragão Fashion Brasil, importante evento de moda que ocorre em nossa cidade. Acompanhada ou não de amigos com SD, todas essas atividades estimulam seu conhecimento e desenvolvimento. Infelizmente ainda se percebe como é pequena a presença de pessoas com deficiência nesses ambientes… Este é um dos nossos desafios que vamos trazer à baila para compartilhar com vocês.
Dúvidas, críticas, sugestões? Escrevam pra gente. Grato pela atenção e até a próxima.
1 Comentário
Excelente matéria João Eduardo. Quero lhe parabenizar e dizer da minha alegria de ler o que alguém com propriedade, escreve sobre assunto tão apaixonante quanto a vida e o desenvolvimento das crianças e adolescentes com Síndrome de Down. Com certeza você com este espaço no Sem Barreiras, irá colaborar com muitos pais e educadores. Parabéns!