Qual é a melhor escola para o meu filho?

08/07/2017 Artigos, Deficiência Intelectual, João Eduardo, Notícias 1

Em junho/2017, estive em duas escolas públicas profissionalizantes de Fortaleza para conhecer as opções para a inclusão de um adolescente com Síndrome de Down. As conversas informais que tive com alguns profissionais do corpo técnico das duas escolas não foram animadoras.

Nesse mesmo mês, ocorreram alguns eventos em Fortaleza debatendo a obrigatoriedade da inclusão escolar. Infelizmente, a resistência ainda é muito grande. São questões culturais que contaminam boa parte da sociedade. Em geral, existe um medo de que essas pessoas ‘diferentes’ possam prejudicar a aprendizagem dos alunos ditos ‘normais’.

Nossa legislação está bem atualizada sobre o tema. O direito à escola está claramente assegurado na nova Lei Brasileira de Inclusão. Na prática, entretanto, a grande maioria das escolas alega não estar preparada para receber alunos com deficiência, principalmente a deficiência intelectual.

Uma forte questão que aflige os profissionais da educação é o medo do novo, do diferente. Todos nós sabemos das dificuldades enfrentadas habitualmente pelos docentes em nosso país, de sorte que a inclusão aparece como mais um item a exigir capacitação e reciclagem para os professores. Então, os pais precisam estar preparados para enfrentar muita resistência na maioria das escolas.

O primeiro passo, naturalmente, será definir o que esperamos da escola de nossos filhos. E o que nós, pais, normalmente desejamos, é apenas uma escola que queira receber nossos filhos. Uma escola que aceite a diversidade humana como ela é, onde cada indivíduo seja tratado de forma individual, de acordo com seus potenciais e suas deficiências.

Ocorre que esta escola não existe, esteja preparado para essa realidade. Precisamos lutar por ela e o engajamento dos pais é fundamental nesta construção. Mas, nem todos os pais têm essa vocação ou estão conscientizados da importância desse engajamento. Entendendo esse cenário, preciso deixar claro que não posso apontar um caminho correto para a escolha dessa escola. O caminho precisa ser definido pelos pais e/ou responsáveis, de acordo com suas convicções.

Comece pelo que deveria ser o óbvio: o filho com SD deveria estudar na mesma escola onde seus pais estudaram ou onde seus irmãos estudam. Se a família tende a escolher um ensino de cunho mais religioso, mesma opção deveria ser buscada para o filho com a trissomia. Mesmo critério se a escolha foi por uma grande escola com propaganda na mídia, a que tem ótimos resultados no ENEM. Quem sabe uma escola com formação militar?

Outro critério importante é o da localização geográfica, de forma a facilitar a rotina familiar. Algumas vezes, os pais escolhem uma escola que parece ser perfeita sob o ponto de vista pedagógico, mas atravessar a cidade todos os dias enfrentando o trânsito pode ser traumático para pais e para o próprio aluno, reduzindo as vantagens daquela escola, que parecia fantástica.

Ouvi essa reclamação, procedente, do diretor de uma escola que se propõe a incluir PcD em suas classes: alguns pais colocam os filhos sem deficiência numa grande escola e colocam apenas o filho ‘diferente’ na escola inclusiva. Seguindo esse critério, as grandes escolas nunca vão se preparar para receber PcD e as escolas inclusivas passariam a ser especializadas, local de ‘depósito’ de alunos com alguma deficiência. Seguramente, não é um bom caminho.

Os pais também devem avaliar qual o seu interesse em comprar essa briga para que a escola escolhida aceite promover as adaptações necessárias para receber seu filho. Eu não posso simplesmente sugerir que todos os pais procurem o Ministério Público ou algum outro órgão para assegurar a matrícula do seu filho com SD, pois tenho a noção que uma parte considerável dos pais não tem esse perfil de lutar por seus direitos. É uma opção cívica importante e altamente recomendável, mas poucas vezes adotada.

Então vale a pena investir na procura de uma escola que já tenha a expertise da inclusão e esta orientação pode ser obtida junto às escolas especializadas no atendimento a crianças e jovens com SD, como a APAE, o Instituto Moreira de Souza ou o Recanto Psicopedagógico, todos em Fortaleza. Normalmente, os profissionais dessas instituições que atendem os alunos no contraturno escolar podem sugerir as escolas que apresentam melhores resultados no processo de inclusão. A conversa com outros pais e profissionais ligados à temática também costuma produzir bons resultados.

Eu reputo como fundamental a criação de uma parceria afinada com a escola escolhida. Conhecer o projeto pedagógico da instituição, frequentar todas as reuniões de pais, saber o nome e o contato dos professores e coordenadores pedagógicos, enfim, manter estreito contato com todos os profissionais envolvidos no processo educacional da criança ou adolescente.

Partindo para objetivos concretos, uma excelente iniciativa é a adoção de um Programa de Desenvolvimento Individualizado, ou algo semelhante. Nada mais é do que uma avaliação feita pelos diversos profissionais sobre o nível de desenvolvimento que o indivíduo apresenta em cada um dos aspectos e disciplinas adotados pela escola. Com base nessa avaliação deverão ser definidos objetivos pedagógicos para cada um desses aspectos ou disciplinas e qual a estratégia a ser adotada por TODOS OS PROFISSIONAIS para que esses objetivos sejam atingidos.

A Lei Brasileira de Inclusão fornece boas orientações sobre o apoio pedagógico necessário para o bom desenvolvimento de pessoas com deficiência. A maior dificuldade enfrentada pelos pais é fazer com que as escolas cumpram o que ali está previsto. E esta dificuldade acaba desestimulando muitos pais, que podem acabar por entregar seus filhos exclusivamente a uma escola especial. Opção esta que impede o convívio da criança com outras pessoas sem deficiência e, o que considero igualmente grave, impede que pessoas sem deficiência tenham o contato, criem amizades, convivam com as pessoas com Síndrome de Down, por exemplo.

Este pode ser um bom resumo dos objetivos principais da inclusão escolar: permitir a convivência livre e democrática de pessoas diferentes na escola. Se somos todos diferentes, vamos valorizar essas diferenças e permitir o crescimento de todos com oportunidades adequadas para cada indivíduo.

A questão da inclusão escolar é profunda e desafiadora. Tentei pontuar alguns aspectos na visão de um pai que há tempos discute o assunto e vivencia o problema. Ainda existe muito por fazer e o engajamento dos pais é fundamental para vencer as inúmeras barreiras existentes. Mas, o resultado tem sido positivo, acredite. Na próxima coluna, abordarei a questão da profissionalização e os efeitos que ela causa nas pessoas com Síndrome de Down. Fique à vontade para mandar suas dúvidas e sugestões.

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1 Comentário

  1. Fernanda 09/07/2017 Responder

    Excelente texto 🙂

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