Quem são esses cidadãos com SD que trabalham?

06/08/2017 Artigos, Deficiência Intelectual, João Eduardo, Notícias 2

Hoje, vou falar sobre a vida de pessoas com Síndrome de Down (SD) que eu conheço pessoalmente, exemplos de inclusão que tive o privilégio de conviver e, em diversos casos, poder desfrutar de sua amizade. São jovens e adultos que venceram os preconceitos da sociedade, inclusive dentro de suas casas, com suas famílias, e passaram pela experiência laboral.

Apenas contextualizando quem não acompanha com regularidade esta coluna, estou tratando da importância do trabalho para a qualidade de vida dos indivíduos com SD, item este que consta na lista das diretrizes compiladas pelo Ministério da Saúde para a pessoa com a Síndrome de Down (clique aqui). Para a fase adulta, o MS recomenda a busca da inclusão social e econômica: “Nesta fase, devem ser discutidas com a família as questões de independência e planejamento futuros quanto aos cuidados e manutenção financeira da pessoa com SD”.

Depois de tentar introduzir a questão dessa importância na coluna anterior, aqui, quero de forma mais pessoal falar sobre a vida de pessoas como a Mariana Cavalcante, cearense por demais conhecida em Fortaleza por sua determinação e personalidade. Mariana foi a primeira pessoa com SD a trabalhar na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos no Ceará, fruto de um convênio mantido entre a Diretoria Regional e a APAE/Fortaleza.

E isso aconteceu há vinte anos! Desde essa época que a carreira de minha amiga não para, passando por uma Boulangerie e depois por um longo período de trabalho no Centro Cultural do Banco do Nordeste, sempre em Fortaleza.

Naquele longínquo 1997, eu tive a honra de visitar com amigos a APAE e de conhecer a necessidade que eles tinham de incluir os jovens adultos no mercado laboral. Motivados pelo desafio, conseguimos sensibilizar diversos profissionais de distintos níveis dos Correios para que o programa fosse criado. Desde lá que dezenas de jovens com a Síndrome e outras deficiências intelectuais tiveram a oportunidade de um primeiro emprego graças à tão singela iniciativa.

Mudou a vida da Mariana, seguramente. E mudou também a vida do Leandro, que já deve estar perto de se aposentar. Eu acompanhei a entrevista que ele deu para um vídeo que foi produzido sobre essa experiência de Correios, Uma Empresa Cidadã. Ele já trabalhava nas farmácias Pague Menos, depois de passar pela experiência dos Correios. O grupo de farmácias já empregou diversos outros cidadãos com SD; um deles é o Levi Pimenta.

Levi é meu amigo no Facebook, eu o conheci nos ensaios e desfiles do Maracatu Solar, quando nós dois éramos brincantes e ensaiamos juntos esse ritmo de percussão tão cearense. Também somos amigos no WhatsApp e ele está muito feliz por estar trabalhando em uma das farmácias do grupo. Muito preocupado com o horário e com a seriedade de seu trabalho, Levi tem uma vida muito semelhante a outros milhões de brasileiros que enfrentam o mercado de trabalho. Estamos todos aprendendo a promover a inclusão e ela faz bem a todos nós.

Não sou eu quem afirma isso, mas os próprios colegas de trabalho. Em minha passagem nas áreas de treinamento e consultoria em um prédio operacional dos Correios na Aldeota, sempre que possível eu arranjava um tempo para passar no Centro de Distribuição Domiciliar e conversar dois dedos de prosa com meu amigo Norton, um jovem que conquistou toda uma equipe de carteiros e colegas de trabalho. Ao término de seu contrato de trabalho, acredito que foram dois anos de experiência, tive a honra de ser convidado para um café de manhã em sua homenagem.

As lágrimas derramadas por muitos daqueles senhores fardados não deixaram dúvidas quanto à importância que a experiência de inclusão pode ter de positiva para um bom ambiente de trabalho. A supervisora me confirmava com freqüência que aqueles profissionais se tornavam pessoas mais sensíveis no convívio diário com o jovem que enfrentava o preconceito e cumpria seu papel como servidor público.

Não é fácil. Existe uma lista de dificuldades enfrentadas pelos envolvidos no processo de inclusão laboral das pessoas com deficiência intelectual. O preconceito, o bullying, a exploração nos mais variados aspectos, os casos de insucesso, não são poucas as barreiras. Assistentes Sociais, Terapeutas Ocupacionais, Instrutores, Professores, são diversos os profissionais envolvidos neste processo.

Em Fortaleza, são diversas as instituições que buscam a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Além da APAE, são também muito conhecidos os trabalhos do Recanto Psicopedagógico e do Laboratório de Inclusão, da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS). Os profissionais dessas e de outras instituições realizam as adaptações e sensibilizações necessárias para que a inclusão vença todas as barreiras que surgem. Vem dando certo, apesar da resistência nas empresas ser muito forte.

Então primeiramente é preciso entender que é possível promover a inclusão de pessoas com SD no ambiente de trabalho, tanto na condição de empregados quanto na condição de empreendedores. Isso mesmo, empresários! Por que não? Já são vários os casos de sucesso de negócios montados por grupos de pessoas com SD, vou dar os links e comentar na próxima coluna.

Espero que esses testemunhos de casos bem sucedidos sirvam de exemplo para que um maior número de pessoas entre na luta pela construção de um mundo mais inclusivo. Meus amigos no WhatsApp com SD são muitos, é este universo que lhes convido para conhecer mais de perto. Dúvidas, sugestões de melhoria para esta coluna? Escreva pra gente. Abraços.

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2 Comentários

  1. Fátima Azevêdo 06/08/2017 Responder

    João, vc escreve como se conversasse com a gente. E o assunto, apaixonante: INCLUSÃO DE PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN. Trabalhando na área de GENÉTICA há mais de 35a continuo me emocionando com o que esses garotos e garotas são capazes de fazer e com sua superação de todo e qualquer obstáculo. Eles são mesmo gente muito ESPECIAL isso é o que eles são: seres humanos especialíssimos e nos ensinam lições valiosíssimas de humanidade. Parabéns João Eduardo! Excelente coluna!

  2. mauricio lima 27/08/2017 Responder

    Verdade João , você descreve verdades de uma forma semantica formidável. O Norton é o que descreves sempre descobriindo formas de de crescimento e ocupação de espaços
    Parabéns pela voluna meu caro João

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