A inclusão do adolescente com Síndrome de Down
Não existe ainda no país uma estatística específica sobre o número de brasileiros com Síndrome de Down (SD). Uma estimativa pode ser levantada com base na relação de 1 para cada 700 nascimentos, levando-se em conta toda a população brasileira. Ou seja, segundo esta conta, cerca de 270 mil pessoas no Brasil teriam SD. Em São Luís (MA), estima-se que cerca de 1400 pessoas tenham SD. Em geral, qualquer gravidez tem o risco médio de 1% do bebê nascer com SD, elevando esta possibilidade com aumento da idade materna.
Geralmente, há uma limitação intelectual de leve a moderada. Já é consagrado o papel da estimulação precoce para o desenvolvimento físico e cognitivo. As relações sociais são fundamentais para que se atinja a plenitude de suas capacidades. O primeiro grupo é a família e o segundo, a escola.
No momento infantil e lúdico do maternal e fundamental I, onde se trabalha mais o concreto e os colegas não percebem ainda a “diferença”, as relações sociais com os colegas são mais francas. Mais fácil ser chamado para aniversários e brincadeiras no pátio, momento ainda onde tudo são flores.
O início da adolescência coincide com o marco de ensino fundamental II, onde todos os indivíduos passam por mudanças hormonais, físicas, psicológicas e comportamentais, concomitante à aquisição de conhecimentos mais complexos, abstratos e em maior volume. Adolescência é fase de descoberta de sua individualidade, de construção de relacionamentos afetivos de amizades e paixões, momento quando muitos sofrem suas decepções e passam a conhecer suas limitações, tendo que aprender a confrontá-las e superá-las.
O adolescente com SD passa pelos mesmos marcos e dificuldades que qualquer outra pessoa. Geralmente nesta fase, ele se percebe diferente fisicamente e reconhece que tem mais dificuldade para adquirir conhecimentos na mesma velocidade dos demais. Então, além das mudanças inerentes à fase da vida, existem estas peculiaridades da Síndrome.
O apoio da família, profissionais de equipe multidisciplinar e escola é importante na adolescência, mas, além disso, as construções sociais com colegas de escola e amigos de mesma idade são fundamentais para a pessoa com SD atinja a idade adulta confiante no seu potencial, sabendo de suas limitações, porém tendo consciência que pode conviver e exercer plenamente suas capacidades.
Porém, o que se observa nesta fase da vida é a exclusão deste adolescente dentre seu meio social escolar. Quando não está anulado nas rodas de conversa e nas brincadeiras no recreio, é infantilizado pelos colegas, que não observam sua potencialidade de construção de um caminho de duas vias de troca de sentimentos e companheirismo. O adolescente com SD já não é mais chamado para aniversários como foi na infância, nunca é chamado para passeios nos shoppings, jogos esportivos ou um cinema. Vive-se, portanto, um bullying de exclusão, onde parece que fazem de conta que este adolescente “não está ali”, machucando-o tal qual o estivessem insultando.
Tudo isso resulta num sentimento de solidão e dificuldade de vencer frustrações, que pode desencadear depressão e até momentos de raiva consigo mesmo e com os outros.
Cabe a família, a escola e a todos os indivíduos envolvidos perceberem esta dificuldade de relacionamento deste adolescente quando ela se apresenta e criarem estratégias para enfrentá-la. Os colegas do adolescente com SD, ao respeitá-lo como indivíduo e tratá-lo como os demais, crescem e amadurecem como pessoas, desenvolvem uma visão mais cidadã, onde se respeita a diversidade e ganham um amigo sincero e fiel para toda a vida.
* Texto foi escrito, em novembro de 2016, por George Oliveira, de São Luís, pai de um adolescente de 13 anos com Síndrome de Down.
2 Comentários
Adorei a clareza da matéria e fiquei muito emocionada ao me colocar no lugar dessas famílias que tem algum ente especial.Infelizmente o mundo em que vivemos é cruel, e a culpa é nossa por muita das vezes não orientarmos os nossos filhos a serem mais humanos e fazer com que entendam e respeitem as diferenças amando e tratando bem ao próximo independente de como eles sejam.
Parabenizo os pais do Davi Hermes, por este
Texto de grande valia no tocante a síndrome
de down, ainda existem grande preconceito ”
em nossa saciedade sobre síndrome down,
mesmo diante de seus direitos já consagrado
em especial e na própria constituição.
Fica cristalizado que a nossa sociedade tem
muito que avançar há esse respeito, está pro-
Vado quando se começa um trabalho desde ”
do início com essas crianças com síndrome ”
os resultados são animadores.
Precisamos de uma mudança de comporta- ”
mento por parte de vários seguimentos da ”
sociedade para que possamos ter os direitos
dessas pessoas respeitados e avançarmos em mais conquistas.