Chef de cozinha com Down dá exemplo de autonomia
Matheus Gabrielli, de 24 anos, tem encomendas de biscoitos garantidas ao menos até o fim deste mês. A mãe, Sandra Gabrielli, publicou em um grupo de uma rede social, um pouco da história do filho, a busca dele por autonomia e, claro, a venda de seus produtos. A repercussão foi imediata.
Quando Sandra ofereceu os biscoitos do filho, não imaginou a repercussão: “Eu tinha muito receio de expor meu filho, de não ser algo bacana, um dia tomei coragem e contei a história do Matheus, o resultado foram 800 comentários e uma semana absolutamente louca, cheia de encomendas”.
São 4 horas por dia dedicadas ao preparo dos biscoitos, fora as entregas, que são feitas pelos pais nas estações de metrô da capital. “Nós, mães, não somos eternas, temos de preparar nossos filhos para o futuro, para serem independentes e terem uma renda. Matheus tem dois cofrinhos: um para o projeto viagem e outro para a festa de aniversário que ele está planejando.
”A rotina de Matheus é muito organizada, precisa fazer acompanhamento com um fonoaudiólogo, além de atividades físicas regularmente, mas sobra tempo para o preparo dos biscoitos e trabalho extra de fotógrafo e recepcionista”, conta Sandra. Ao saber que sua história seria contada pelo R7, Matheus se emocionou.
Nem sempre foi fácil. Ao dar à luz no hospital e maternidade Cristo Rei, atualmente desativado, na zona leste, Sandra ouviu do médico que seu filho recém-nascido era “mongoloide, uma criança que custaria milhões e seria dependente por toda a vida”. Além do impacto da notícia dada de forma brutal, a mãe enfrentou 25 dias com Matheus na UTI. “Aquele médico tirou a felicidade do momento e a substituiu por muita preocupação. Mas o amor supera tudo”.
“Matheus tinha uma saúde debilitada, foram muitas internações, vai e vem em hospitais. Acompanhamos com fonoaudiólogos, fisioterapias e até mesmo terapia ocupacional, boa parte na rede pública”. Como outras crianças com Down, os desafios são grandes, mas não impediram o menino de ser alfabetizado aos 15 anos e concluir o ensino fundamental na rede pública.
Já a paixão pela gastronomia surgiu em casa vendo a mãe preparar os biscoitos para presentear pessoas queridas. “Ele queria aprender a fazer. Sempre fez muitos cursos – fotografia, capoeira, dança – gastronomia foi mais um deles”. Apenas mais um, não. Com o curso, o jovem descobriu seu talento, a independência na cozinha. Claro que conta com aquela ajuda da mãe, que está sempre por perto e reclama da bagunça. No seu tempo, do seu jeito, Matheus prepara os biscoitos.
Com a turma dos Chefs Especiais, Matheus não apenas aprendeu a cozinhar como também consegue um dinheiro extra. “As pessoas se descobrem ali. Tem aluno que abriu cafeteria. Matheus faz bicos como recepcionista, outros fazem como garçons”.Além da iniciativa de inserir os jovens com Down no mercado de trabalho, os cursos também reúnem a galera. “Matheus é um jovem muito querido, muitocomunicativo, com muitos amigos, mas que poucas vezes foi convidado para aniversários ou festas. As pessoas não se lembram dele nas listas”, conta Sandra. Problema enfrentado por outras mães.
Sem deixar a peteca cair, outra mãe que se viu na mesma situação, Sandra Reis, criou a Galera do Click, que tem objetivo de reunir adolescentes e jovens com Down para fotografar. “Eles têm uma turma, amigos e a fotografia é apenas um dos motivos para estarem juntos. ”
“Costumo dizer que somos os mais vistos por onde passamos, ainda enfrentamos olhares. Acredito que a sociedade ainda precisa mudar, mas a convivência está melhor”. Assim mãe e filho seguem vencendo desafios.
* Matéria do portal R7 e fotos de Edu Garcia/R7
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