Foto horizontal de um menino autista de cerca de dez anos, de costas, vestindo uma bermuda escura, tênis azul e uma blusa tricolor em laranja, branco e marrom, caminhando por uma estrada cercada por vegetação dos lados, e realizando movimentos repetitivos com os braços.

Você entende sobre as estereotipias em autistas?

05/09/2018 Deficiência Intelectual, Notícias 0
Foto horizontal de um rapaz, ao centro, com uma camisa azul de mangas compridas, um fone de ouvido no pescoço e uma mochila nas costas, em uma faculdade. Ao fundo, um armário verde desfocado e desenhos pregados nas paredes

Na série Atypical, o personagem Sam, interpretado pelo ator Keir Gilchrist, faz stims com as mãos.

Estereotipias ou stims são os nomes dados para movimentos repetitivos bastante comuns em pessoas autistas. De fato, esse pode ser um dos sinais que levam pais a procurarem médicos e psicólogos em busca de um diagnóstico. Alguns dos mais conhecidos são balançar as mãos, bater os pés, girar objetos ou o próprio corpo e até fazer sons repetidos.

Ao contrário do que muitos pensam, as estereotipias, na maioria das vezes, não são perigosas e podem ser uma forma de ajudar o autista a se organizar mentalmente. Vamos entender um pouco mais sobre isso abaixo.

Por que as estereotipias existem?
Uma das principais dúvidas dos pais é com relação ao motivo que leva pessoas no espectro a fazerem esses movimentos. Num primeiro momento, muitos tomam a ação de tentar impedir ou mesmo fazê-los parar, mas segundo o psicólogo Vinícius Bernardes Jerônimo, eles são inofensivos e podem, inclusive, ajudar autistas a se concentrar melhor. “Mesmo não sendo socialmente adequadas, as estereotipias acalmam e têm função de contato do indivíduo com TEA com sua realidade particular”, explica.

Além disso, ele afirma que esses movimentos não são característicos somente em pessoas autistas. “Movimentos estereotipados podem, também, ser observados em pessoas neurotípicas. Por exemplo, movimentos repetitivos das pernas, batidas de pés, cruzar e descruzar as pernas, estalar os dedos, assoviar, roer as unhas etc. Eles têm a mesma função calmante e de baixa da ansiedade. Entretanto, neurotípicos têm um maior controle e domínio de tais comportamentos”, ressalta.

De dentro para fora
Caroline de Souza, 25 anos, recebeu o diagnóstico de autismo somente em 2017. A busca por um parecer médico vinha desde os 5 anos. “Me levaram na psicóloga porque eu ia entrar na escola aos seis, mas ela disse que eu não tinha nada. Só era tímida e a escola resolveria isso”, explica.

Infelizmente, a profissional consultada não podia estar mais errada. Carol teve muitos problemas na escola que refletiram, inclusive, no ensino superior. “Na terceira tentativa de ingressar no curso de pedagogia, passei a ter muitos problemas e crises. Fiquei fisicamente doente. Foi aí que fui ao médico e recebi o diagnóstico”, conta.

Quando perguntada sobre os stims, ela logo responde que tinha vários. Balançar o corpo, flapping, fazer sons com a boca, girar o próprio corpo e outros objetos. “Quando criança, eu entendia como algo extremamente prazeroso. Me fazia muito bem. Me deixava calma, ajudava em tudo. Via como algo normal”, pontua.

Segundo ela, depois que começou a ser alvo de piadinhas dos colegas de escola, percebeu que as atitudes não eram assim tão normais. Chegou a tentar parar de fazer os movimentos, mas não conseguiu. “Continuei fazendo, mas sempre com o pensamento de que estavam me achando estranha”.

Foto quadrada, da cintura para cima, de um menininho autista, olhando para o mar. Ele veste uma camiseta verde e realiza o chamado flapping, movimento repetitivo com os braços.

O flapping é um movimento repetitivo bastante comum em autistas.

O diagnóstico mudou essa visão. Hoje, Carol continua fazendo stims. Mas ressalta que saber do autismo foi essencial para se entender melhor. Além disso, conseguiu fazer com que a família a entendesse. Os movimentos repetitivos são uma parte importante desse processo.

“É uma forma de auxiliar o cérebro com o excesso de estímulos que recebe. Por isso acalma, concentra, é prazeroso e fundamental na vida do autista”, finaliza.

Devo parar com as estereotipias do meu filho?
A maior dúvida de muitos pais é saber se devem ou não tentar acabar com as estereotipias. Segundo o psicólogo especialista em autismo Fábio Coelho, algumas estereotipias têm função de autorregulação.

“É como se o movimento repetitivo liberasse uma tensão e eles voltassem para um estado de equilíbrio. No entanto, é comum as estereotipias passarem a desempenhar outras funções. Como uma linguagem para pedir algo, se esquivar de alguma demanda ou chamar atenção. Nesses casos, podemos traçar estratégias para ensinar outras formas de se relacionar com o entorno”, explica.

Por isso, ele ressalta ainda que os pais não devem tentar cessar esses movimentos repetitivos, a não ser que sejam autoagressivos. “Além de ser bem difícil traçar estratégias para intervir diretamente nelas, uma vez que o próprio movimento é reforçador (alívio de ansiedade e sentimento de prazer). No entanto, isso vai depender de cada caso e da função e da intensidade do movimento. Por conta dos interesse restritos, precisamos aumentar o repertório e ensinar habilidades. E de uma forma indireta, a estereotipia vai reduzindo”, finaliza.

* Blog Sem Barreiras e o Portal Singularidades (clique aqui) fecharam uma parceria de compartilhamento de textos para a coluna Por Dentro do Autismo. Este é o primeiro que estamos publicando. O Portal Singularidades é uma iniciativa da jornalista Gabriela Bandeira, autora do livro-reportagem Singularidades – Um Olhar sobre o Autismo, que conta histórias reais de mães e crianças diagnosticadas no espectro autista.
** Legenda da foto em destaque: Movimentos repetitivos são comuns em pessoas no espectro autista.

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