Pai (à direita), de camisa vermelha de mangas compridas, tenta colocar uma máscara azul no filho adolescente, autista, sentado em um sofá esverdeado.

Dificuldade de autistas em usar máscaras preocupa pais

21/06/2020 Deficiência Intelectual, Notícias 0
Mãe, de costas, do lado esquerdo, coloca uma máscara vermelha na filha pequena, sentada em uma cadeira.

Professora Érica Bastida, mãe da pequena Ana Júlia, diz que é difícil os autistas compreenderem esse momento de pandemia, de não poder sair de casa e reforçar a higiene. Usar máscara é um desafio ainda maior.

Seja para trabalhar, ir à farmácia ou ao supermercado, o uso da máscara é essencial para evitar a contaminação pelo coronavírus. No entanto, o equipamento é bastante incômodo para os autistas, que têm dificuldade em sentir algo tocando a pele.

Em Sorocaba (SP), os pais e responsáveis estão preocupados, pois vão precisar sair de casa em alguns momentos para levar os filhos à terapia e ao médico.

A professora Érica Bastida é mãe de Ana Júlia, que é autista, e gravou um vídeo mostrando o momento em que coloca a máscara na filha. Ela diz que, para os autistas, já é difícil compreender esse momento de pandemia, de não poder sair de casa e reforçar a higiene. Usar máscara é um desafio ainda maior.

“O uso de máscara vem para potencializar o distúrbio do processamento sensorial, o que dificulta para eles a utilização de algo no rosto. Nós estamos trabalhando com eles no sentindo de que tentem utilizar a máscara o máximo de tempo possível, mas muitas vezes isso é difícil. Não é porque eles simplesmente não querem utilizar, mas é porque há uma dificuldade maior do que para nós”, explica.

O empresário Vitor Azevedo Júnior é pai de Pedro, de 12 anos, um autista não verbal, ou seja, que não fala. Assim como 96% dos autistas, ele também tem dificuldades sensoriais e não consegue aceitar acessórios no corpo.

“A insistência do uso dessas máscaras causaria enormes crises de irritabilidade nessas pessoas. Daqui a alguns dias, nós voltaremos a frequentar as terapias, escola e, infelizmente, eu tenho certeza que meu filho Pedro não vai conseguir usar a máscara dele”, comenta.

Outro exemplo de como os autistas não conseguem usar máscara é o vídeo do empresário Hygor Paulo Duarte, pai de Eric (assista aqui).

Nas imagens, é possível ver que, primeiro, Hygor coloca a máscara no filho mais novo, Théo, que, depois de escolher a estampa do pano, aceita ficar com o item de proteção. Mas, quando chega a vez de Eric, nem o celular, usado para distrair o menino, ajuda na hora de colocar a máscara.

“Sabemos da dificuldade de muitos autistas no uso, mas os pais estão temerosos, porque contam que alguns precisam sair para atendimento terapêutico, realização de exames e fica difícil essas crianças estarem com a máscara”, explica a diretora da associação Amigos dos Autistas de Sorocaba (Amas), Jeane Collaço.

“Já têm algumas cidades que estão utilizando o laço azul no punho para as crianças que precisam fazer uma caminhada para aliviar a tensão, o estresse, isso para as pessoas já saberem que são autistas”, completa Jeane.

A médica psiquiatra Cláudia Antila, que acompanha os assistidos pela associação, explicou o motivo de os autistas terem dificuldade no contato e o que a insistência em usar máscara pode causar.

“Esse recebimento gera reações e outras sensações, geralmente, de evitação, agitação psicomotora, agressividade ou até autoagressividade.”

No entanto, Cláudia reforça que o uso de máscaras é obrigatório para as pessoas ao redor do autista. “Poderia haver também a experiência de máscaras com tecidos mais maleáveis, agradáveis, com elásticos mais alargados”, sugere.

“Eu desejo que vocês se cuidem, especialmente para proteger aqueles que não têm, muitas vezes, recursos para se cuidar pelas dificuldades que portam. Nelas se encaixam os portadores de transtorno autista e os deficientes mentais”, finaliza a médica.

Em nota enviada à TV TEM, a Prefeitura de Sorocaba informou que o uso de máscaras está facultativo para pessoas com autismo e outras deficiências que possam dificultar a utilização.

A orientação é para que os pais consigam explicar a importância e, principalmente, para que locais com risco da doença sejam evitados. Outra orientação é para que as pessoas com deficiência só saiam de casa se realmente for necessário.

O uso de máscara também não é recomendado para crianças menores de dois anos porque existe o risco de elas sufocarem.

* Matéria de Mayara Corrêa, TV TEM (clique aqui)

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