Foto de Andrea Schwarz, mulher branca, com cabelos loiros, lisos e compridos. Está sentada em uma cadeira de rodas, com as pernas e os braços cruzados, com as mãos sobre as coxas. Sorri e olha para a câmera. Veste jaqueta de couro escura sobre uma blusa preta e saia com tons de rosa. Calça sapatos finos de salto agulha. Ao redor, móveis e objetos de decoração em uma sala de estar com paredes de tijolos vermelhos e chão cinza.

Ser deficiente a ajudou nas dificuldades da vida

06/01/2021 Deficiência Motora, Notícias 0

Completei metade da minha vida sentada na cadeira de rodas. Há 22 anos, me tornei cadeirante. Hoje, com 44, tenho maturidade suficiente para entender que nas grandes adversidades da vida estão também as melhores oportunidades.

Me tornar uma pessoa com deficiência, obviamente, não estava nos meus planos, mas a partir daí pude enxergar o mundo sob uma nova perspectiva e descobrir o meu propósito de vida: me dedicar à construção de um mundo mais inclusivo e com igualdade de oportunidades para todos.

Descobri rapidamente que, independentemente da cadeira de rodas, continuava sendo a mesma pessoa, mas a sociedade passou a me enxergar de forma completamente diferente, rotular pela minha deficiência, limitar meu ir e vir com a falta de acessibilidade, oferecer poucas oportunidades e me tornar uma cidadã invisível. Eu não via outras pessoas com deficiência ocupando espaços na mídia, na publicidade, nos telejornais, na política ou na liderança das empresas.

Na cadeira de rodas, mesmo sendo a mesma pessoa, fui obrigada a me reinventar por completo, desde redescobrir como fazer as mesmas atividades da vida diária de formas diferentes até enfrentar uma sociedade capacitista que enxerga mais a minha limitação do que os meus potenciais.

A forma que escolhi para transformar essa realidade foi por meio do empreendedorismo social. Na época, a deficiência era completamente institucionalizada e entendi que o caminho da inclusão no mercado de trabalho era a melhor forma de empoderar pessoas com realidades parecidas com a minha.

Fundei minha consultoria, a iigual inclusão e diversidade, para auxiliar as grandes empresas a desenvolver programas de inclusão e contratar pessoas com deficiência. Passamos a incrível marca de 20 mil pessoas que ajudamos a incluir no mercado de trabalho formal.

Muito feliz pela trajetória até aqui, sou uma eterna inconformada, até porque sei que falta muito para conseguirmos viver em uma sociedade inclusiva, acessível, com igualdade de oportunidades e livre de preconceitos.

E justamente no ano em que completei metade da minha vida como cadeirante e empreendedora social, veio uma pandemia que também não estava nos planos de ninguém. De uma hora para a outra, passamos a ter que nos isolar e nos proteger contra um vírus que nos obrigou a mudar completamente o estilo de vida.

Por um momento eu achei que não conseguiria trabalhar e continuar firme no meu propósito de incluir. Como fazer os processos seletivos, as palestras, reuniões, consultorias se precisávamos estar em isolamento social? Como continuar trabalhando por um mundo mais inclusivo se não podíamos ter interações humanas? Eram muitas perguntas e poucas respostas, assim como quando eu fiquei na cadeira de rodas.

Foi aí que percebi que a deficiência me trouxe competências fundamentais para o momento que estamos passando. Momento no qual precisamos, todos, nos reinventar. Eu já havia me reinventado quando fiquei na cadeira e essa vivência me trouxe a experiência e a tranquilidade para me reinventar novamente.

A principal competência que eu adquiri, muito necessária hoje, é a capacidade de me adaptar. Não dá para viver na cadeira de rodas em uma cidade como São Paulo sem se adaptar, e muito. Falta de acessibilidade é regra. Falta de bom senso, nem se fala.

Adaptei minha forma de trabalhar e de fazer inclusão. A tecnologia assumiu total protagonismo no trabalho e na vida, descobri que a tecnologia é a maior aliada da inclusão.

As palestras se tornaram online e isso me possibilitou atingir muito mais pessoas do que no modelo presencial. Cheguei a apresentar nove palestras em um dia porque não havia necessidade de deslocamento. Em algumas, fui assistida por milhares de pessoas, no Brasil e no mundo.

Reuniões também eram todas online, assim como os processos seletivos. A produtividade aumentou muito. Investi bastante na produção de conteúdo nas redes sociais. Além do LinkedIn, rede que fui eleita uma das Top Voices, abri meu Instagram (@dea_schwarz) e TikTok (@dea_schwarz). Descobri o poder das redes para me ajudar a construir um mundo mais inclusivo e com mais igualdade de oportunidades.

E também comecei um novo empreendimento na área de acessibilidade digital com a startup EqualWeb uma tecnologia capaz de transformar qualquer site em um ambiente inclusivo de forma muito simples, rápida e econômica.

Longe de dizer que foi um ano bom, foi um ano de muitos aprendizados. Semelhante a quando me tornei cadeirante, neste ano tive que aprender a fazer as mesmas coisas de formas diferentes. E me reinventar. De novo.

Saber que fui capaz de passar por esse processo de reinvenção novamente é muito bom. Saber que, nas adversidades, podemos encontrar oportunidades também. E tenho certeza de que foi assim para todos. Um ano difícil, mas que no deixou mais fortes e experientes. Porque sabemos que podemos nos reinventar.

* Artigo de Andrea Schwarz, no Blog Vencer Limites, empreendedora social, CEO da iigual, consultoria especializada na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, e CEO da EqualWeb, startup de tecnologia de acessibilidade digital para websites.

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