Covid-19 já matou 695 pessoas com Síndrome de Down no Brasil
Quase 700 pessoas com Síndrome de Down, no Brasil, já perderam a vida por complicações da Covid-19. O levantamento é do Ministério da Saúde. No início da pandemia, houve um grande temor entre famílias que têm integrantes com a trissomia do cromossomo 21. Isso porque pessoas com a síndrome apresentam, de forma inata, uma imunidade mais vulnerável e maior prevalência de doenças autoimunes e de infecções respiratórias.
Quem convive com portadores da síndrome precisou reforçar os cuidados em casa. É o caso da técnica de enfermagem Ana Inês Carvalho. Ela conta que foi um processo delicado explicar para o irmão, Daniel Augusto, de 40 anos, o que era a pandemia e como se prevenir.
‘Ele achava que a gente não queria deixar ele passear. Até chegou a me perguntar assim: ‘Miel está preso, Tinha?’, e eu falei com ele: ‘Miel não está preso, Tinha só está protegendo o Miel’. Hoje ele já sabe que não pode. Ensinei a lavar as mãos corretamente, ele usa o álcool em gel, quando precisa sair ele usa máscara’, descreve. ‘Os cuidados, em geral, redobram todos. Você já começa a ver as coisas com outro olhar. Se apresentar qualquer coisa diferente, eles não sabem explicar direito, e você vai ter que ter um olhar pra isso.’
Outra dificuldade está na ausência de socialização nesse momento. O Instituto Mano Down é um dos projetos de referência no Brasil que atuam na inclusão das pessoas com deficiência intelectual na sociedade. O presidente da organização, Leonardo Gontijo, defende que as pessoas com a síndrome deveriam estar na lista de prioridades para vacinação contra a Covid-19.
‘Pessoas com deficiência intelectual, que são nosso público aqui, no qual se enquadra a Síndrome de Down também, vivem uma vida de isolamento social constante. Principalmente a geração mais velha, que não tem convites, não tem oportunidades. E tem a questão que a gente está observando especificamente no Mano Down hoje. Essa questão do próprio confinamento em si. Solidão, fica nessa angústia, às vezes aumenta o número de manias, o número de dificuldades, é muita gente com TOC, muita gente com regressões… então essas preocupações também são mais um motivo para priorizar a turma nesse contexto’, defende.
Segundo o último Censo do IBGE, no Brasil há quase 300 mil pessoas com Síndrome de Down. Mas ainda não está claro como pessoas com essa condição respondem à infecção pelo coronavírus.
O médico geneticista e pediatra Zan Mustacchi, que integra o Comitê Científico da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, diz que, atualmente, há um entendimento de que a síndrome, em si, talvez não cause maiores complicações.
‘O que a gente observou é que a comorbidade mais correlacionada com a trissomia do 21 foi o sobrepeso. E, de uma forma muito singular, todos correlacionam a trissomia do 21 com uma tendência de ser um indivíduo mais gordo, mais obeso. Essa sim é a conotação de maior importância para que a sua comorbidade ou mortalidade seja mais exuberante’, diz.
Ainda não há estudos para avaliação tanto da resposta imunológica como da eficácia das vacinas para Covid-19 em pessoas com Síndrome de Down. Mas, não há restrição para o uso de vacinas nessa fatia da população. O Ministério da Saúde não relacionou esse público como prioritário no Plano Nacional de Imunização.
Em nota, o Ministério da Saúde disse que reconhece a vulnerabilidade de pessoas com Síndrome de Down em relação às infecções respiratórias. A pasta afirmou, ainda, que o plano de imunização é dinâmico e pode ser atualizado quando necessário.
* Matéria de Pedro Bohnenberger, do site da Rádio CBN
Sem nenhum comentário