Time Brasil termina em 7º nos Jogos Paralímpicos de Tóquio
Os Jogos Paralímpicos de Tóquio se encerraram neste domingo, 05. O Brasil igualou a posição de Londres 2012, sétima colocação, e o número total de pódios da Rio 2016. Contudo, o país ganhou mais medalhas de ouro do que em qualquer outra edição dos Jogos, 22, uma a mais do que em Londres. Foram 22 ouros, 20 pratas e 30 medalhas de bronze, totalizando 72 medalhas. O atletismo foi o carro-chefe das conquistas, com 28 medalhas (8 de ouro, 9 de prata e 11 de bronze). Em termos individuais, a pernambucana Maria Carolina Santiago (classe S12), deficiente visual de 36 anos, foi o maior nome. Carol venceu os 50m livre, os 100m livre e os 100m peito, batendo dois recordes paralímpicos, e ainda foi prata no revezamento 4x100m livre misto e bronze nos 100m costas. Outro feito histórico dos paratletas brasileiros foi a conquista da centésima medalha de ouro nos Jogos, que veio com o paratleta Yeltsin Jacques, na prova dos 1500m do atletismo, classe T11 (deficientes visuais que podem ser auxiliados por até dois atletas-guia durante o percurso). Yeltsin também bateu o recorde mundial da prova.
Em uma rápida comparação com os Jogos Olímpicos de Verão, também disputados em Tóquio, de 23 de julho a 8 de agosto passados, o Brasil terminou na 12º colocação, conquistando 7 medalhas de ouro, 6 de prata e 8 de bronze, 21 no total, um resultado bem abaixo das Paralimpíadas. Este texto, contudo, não se propõe a traçar paralelos entre esporte paralímpico e esporte tradicional, mas sim, procurar entender o que explica esse resultado tão expressivo nas Paralimpíadas e o que pode significar nas condições de vida das pessoas com deficiência no nosso país. O paratleta cearense Henrique Gurgel, em entrevista ao canal Blog Sem Barreiras, do Youtube, em junho passado, previu que o Brasil terminaria no top10 nos Jogos e citou algumas possíveis explicações para o bom desempenho dos atletas. Segundo ele, tudo começa com Andrew Parsons, que presidiu o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) de 2009 a 2017 e foi o responsável pela profissionalização e evolução técnica e científica do paradesporto no país. Henrique também cita a construção do Centro Paralímpico Brasileiro (aqui), o principal centro de excelência do Brasil e da América Latina e um dos melhores do mundo. Por fim, ele ressalta a parceria do CPB com a Universidade Federal de Uberlândia e seu corpo científico e de preparação física.
A participação brasileira em Jogos Paralímpicos começou há 37 anos, em 1984, na edição dos jogos compartilhada entre Nova Iorque e Stoke Mandeville. O Brasil obteve a primeira medalha dourada com Márcia Malsar, nos 200m da classe C6 do atletismo. O esporte paralímpico cresceu em profissionalização e investimentos e, desde a edição de Pequim, em 2008, está entre as dez nações com maior destaque em jogos paralímpicos e entre os 20 países com mais medalhas acumuladas na história. O atletismo é a modalidade com maior número de ouros, seguido pela natação. O nadador Daniel Dias (classes S5, SB4 e SM5) é o maior medalhista, com 14 ouros e 27, no total. Em Tóquio, Daniel se despediu das piscinas com três medalhas de bronze. Entre as mulheres, a principal medalhista é Ádria Santos, do atletismo classe T11 (cegueira total), com quatro ouros e 13, no total. Ádria disputou seus últimos Jogos em Pequim, 2008, quando conquistou a medalha de bronze nos 100m rasos. Atualmente com 47 anos, treina e mora em Joinville, Santa Catarina, e foi comentarista dos Jogos de Tóquio pelo Grupo Globo.
Bolsa Atleta – O governo brasileiro mantém, desde 2005, durante a gestão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), um dos maiores programas de patrocínio individual de atletas no mundo. Segundo o site oficial do Ministério da Cidadania, “o público beneficiário são atletas de alto rendimento que obtêm bons resultados em competições nacionais e internacionais de sua modalidade”. O programa garante condições mínimas para que eles se dediquem, com exclusividade e tranquilidade, ao treinamento e competições locais, sul-americanas, pan-americanas, mundiais, olímpicas e paralímpicas. Desde 2012, agora na gestão da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), a Lei 12.395/11 permite que o candidato tenha outros patrocínios, o que permite que atletas consagrados possam ter a bolsa e, assim, contar com mais uma fonte de recurso para suas atividades. O Bolsa Atleta atende atletas que tenham obtido bons resultados e sem necessidade de intermediários. Basta que cumpra os requisitos, mantenha-se treinando e competindo e alcance bons resultados nas competições qualificatórias indicadas pelas respectivas confederações.
O dinheiro é depositado em conta específica do atleta na Caixa Econômica Federal. A prioridade é para atletas de esportes que compõem os programas dos Jogos Olímpicos e dos Jogos Paralímpicos. Em seguida, o benefício se destina a atletas de modalidades chamadas não olímpicas (que compõem o programa dos Jogos Pan-americanos e outras que não fazem parte dessas competições). Seis categorias compõem, atualmente o Bolsa Atleta: atleta de base (R$ 370), estudantil (R$ 370), nacional (R$ 925), internacional (R$ 1.850), olímpico/paralímpico (R$ 3.100) e pódio (R$ 5 mil a R$ 15 mil). O impacto da Bolsa Atleta foi medido nos Jogos Rio 2016. Na edição olímpica, 77% dos 465 atletas convocados para defender o Brasil eram bolsistas. Das 19 medalhas conquistadas pelos brasileiros, apenas o ouro do futebol masculino não teve bolsistas. Já nos Jogos Paralímpicos, o Brasil teve a maior delegação da história até então, com 286 atletas, e 90,9% de bolsistas. Foram 72 medalhas, em 13 esportes: 14 ouros, 29 pratas e 29 bronzes, além de 99 finais. Todas as medalhas vieram com atletas que recebiam o apoio do programa federal.
As mudanças políticas no país, a partir do impeachment da presidenta Dilma, em 2016, contudo, causaram gravíssimo dano no investimento público ao desporto e paradesporto. O Programa Bolsa Atleta sofreu uma queda de 17% em seu orçamento total durante o ciclo olímpico de 2017 a 2021 em relação ao período anterior. Foi a primeira vez que isso ocorreu desde a criação do programa federal. De acordo com dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) do Ministério da Cidadania, no ciclo olímpico de Tóquio, apesar de ter um ano a mais na contabilização do orçamento em função do adiamento por causa da pandemia, o montante total destinado ao programa foi de R$ 530,4 milhões, contra os R$ 641,1 milhões do ciclo referente ao Jogos do Rio (2013 a 2016). O ano de 2020 foi o que sofreu maior impacto, com 274 bolsas concedidas contra 6.651 contemplados, no ano anterior. Desde 2005, o orçamento crescia de 100% a 200% a cada período. Mas, em 2014, durante o mandato do ex-presidente Michel Temer (PMDB), o programa passou a dar indícios de que não havia orçamento suficiente para sua manutenção. O atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) colocou como meta para os seus 100 primeiros dias a modernização do Bolsa Atleta. Em 2019, alocou R$ 140 milhões para o orçamento do programa. No entanto, para equilibrar as contas, e justificando pela pandemia, não lançou edital do Bolsa Atleta em 2020. Resta saber como ficará o próximo ciclo até as Paralimpíadas de Paris, em 2024.
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