Globo anuncia Fernando Fernandes no comando do No Limite
A Rede Globo de Televisão anunciou, na última quinta-feira, dia 06, no programa Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga, que o ex-BBB Fernando Fernandes é o novo apresentador do programa No Limite. As quatro primeiras temporadas foram apresentadas por Zeca Camargo, sendo sucedido por André Marques e, agora, Fernando. Mas, quem é Fernando Fernandes e por que esta matéria virou pauta de Sem Barreiras? Fernando Fernandes de Pádua, 40, nasceu em São Paulo no dia 28 de março de 1981. Tornou-se conhecido nacionalmente quando participou da segunda edição do Big Brother Brasil (BBB), exibida de 14 de maio a 23 de julho de 2002. Em 2009, porém, sofreu um acidente automobilístico que o deixou paraplégico. Nas suas palavras, em seu site oficial: “Na volta para casa, após uma partida de futebol, acabei dormindo ao volante e acordando em um lugar cheio de luzes e cheio de pessoas com roupas brancas”. Foram cinco dias de UTI, mas já não corria risco de morte.
Fernando Fernandes sempre foi apaixonado por esportes. Praticava todos os que fossem possíveis, inclusive o futebol, passando por categorias de base de alguns clubes, até se profissionalizar, aos 17 anos. Um ano depois, foi convocado para o Exército, de onde saiu com 19 anos. Então, foi passar seis meses na Califórnia, estudando inglês. Paralelamente às atividades esportivas, trabalhou como modelo e, ao voltar para o Brasil, aceitou o convite de uma agência e foi morar em Nova York. Vários trabalhos surgiram para ele, como campanhas da Abercrombie & Fitch, com um dos maiores fotógrafos do mundo, Bruce Weber. Desfilou para Calvin Klein e outros trabalhos um pouco menores, como Coogi Austrália. Ao final da temporada e do ano, retornou ao Brasil e retomou seus treinos de boxe. Certo dia, foi abordado na rua por um rapaz que se dizia “olheiro” e o convidou para participar da segunda edição do Big Brother Brasil. “No início não estava muito confortável com a ideia, cheio de dúvidas, mas aceitei gravar um vídeo teste”, afirma. Duas semanas depois, já estava dentro do programa, sendo eliminado na terceira semana. Sua participação no BBB alavancou ainda mais sua carreira.
Após o término do programa, Fernando foi estudar teatro e morar no Rio de Janeiro. “Este período me deu muito prazer e acabei participando de três peças – “Endependência”, de João Brandão; “A Missão Secreta de Tom Rilver”, de Moises Bittencourt; e “O Ateneu”, dirigido por Leo Brício, André Mattos e Gaspar Filho”, lembra. O teatro foi um momento muito especial para ele, mas ficou claro que não seguiria carreira. Sua predileção era o esporte. Fernando continuou praticando boxe e cursando faculdade de Educação Física. No boxe, foi campeão carioca iniciante amador. Também participou do “Futebol de Artistas”, projeto que reúne famosos e arrecada alimentos para o Fundo Social. Paralelo ao esporte, seguiu com a carreira de modelo, de onde tirava o sustento e um certo conforto. Nesta época, conheceu o fotógrafo Mario Testino, que o fotografou para a revista Vogue alemã e recebeu o convite para estrelar a campanha de perfumes da Dolce & Gabbana com as tops Naomi Campbell, Claudia Schiffer e Eva Herzigova. Estes trabalhos alavancaram sua carreira e geraram diversos convites de agências internacionais. Fernando passou uma temporada em Atenas, Grécia, e sua intenção era passar diversas temporadas trabalhando por lá.
Acidente – Na madrugada do dia 04 de julho de 2009, um sábado, Fernando Fernandes voltava de uma partida de futebol e, segundo seu próprio relato, adormeceu ao volante. Seu veículo bateu em um poste na esquina da Avenida República do Líbano, zona sul da capital paulista. O apresentador passou por uma cirurgia na coluna, realizada no Hospital São Paulo, também na zona sul. O ex-BBB quebrou duas vértebras e precisou passar por uma cirurgia de “descompressão da medula e fixação da coluna”, segundo boletim do hospital, à época. Os médicos informaram que a medula não se rompeu, o que trouxe esperança sobre o retorno dos movimentos das pernas. Porém, Fernando não se recuperou após a realização da cirurgia. “Percebi que não estava sentindo minhas pernas e aquela sensação me causou desespero, porém uma força enorme, que não sei de onde veio, me tranquilizou e comecei a viver dia após dia”, conta ele em seu site oficial. “O acidente mudou a minha perspectiva da vida e entendi que o esporte poderia ser um meio para realizar tudo que quisesse, em todos os aspectos da minha vida”, afirmou em uma entrevista à revista Quem.
Paradesporto – Familiares e amigos foram muito importantes no dia a dia pós-acidente. Ele passou um mês internado e mais um, em casa. No terceiro mês, foi ao Hospital de Reabilitação Sarah Kubitschek, em Brasília, onde encontrou um lugar com pessoas que estariam vivendo uma realidade parecida com a dele – lesões medulares, cerebrais e todo tipo de problemas. “Isso me fortaleceu demais, pois pude ver que, por mais difícil que fosse meu problema, ali tinham pessoas com dificuldades bem maiores, lutando com toda garra pela vida”, fala. Fernando afirma que já estava decidido a não se entregar e a ida ao Sarah reforçou esta determinação. Deu início à fisioterapia e posteriormente aos treinos físicos, mesmo que bem leves. “Meu objetivo principal, logicamente, era voltar a andar, porém não iria parar minha vida para esperar este momento, apesar de dar toda a minha dedicação por ele”, diz. Ele conta que iniciou as atividades esportivas com musculação, corridas na cadeira e caminhadas com órtese, na fisioterapia. “Isso me proporcionava um enorme prazer, poder me superar a cada dia”, afirma. Foi então que teve a ideia de disputar a corrida de São Silvestre.
Com apenas três meses de lesão, decidiu que participaria da corrida que aconteceria três meses depois. Desde então, seus treinamentos foram voltados para esse objetivo, paralelamente com a fisioterapia, pois a vontade de andar, sem dúvida, predominava. Aos quatro meses de lesão, foi transferido para a Sarah Lago Norte, que já seria um local voltado para reabilitação, diferente do outro Sarah, que era voltado à parte Clínica. Lá, deu ênfase aos treinos e à preparação para a maratona. No dia 23 de dezembro, voltou para São Paulo para passar as festas de fim de ano com a família. “O carinho dos meus pais, irmãos, parentes e amigos me fortaleceu muito, mas não conseguia deixar de pensar na corrida”, lembra. Quando foi dada a largada, Fernando conta que foi um dos momentos mais emocionantes da sua vida, pois foi um momento de reflexão. “Apesar do “calor da prova”, um filme se passou na minha cabeça relembrando minha vida toda e isso me deu mais força para seguir os 15 km da corrida e enfrentar a subida da Av. Brigadeiro Luís Antônio, com a mão toda esfolada e em carne viva. Não poderia desistir de maneira alguma, pois eu sei que eu estava ali representando uma parte da população que estava vivendo momentos de dificuldades e que muitas vezes tem vergonha de sair de casa por preconceitos e pela falta de estrutura que temos no nosso país”, afirma.
A conquista de completar a icônica prova da São Silvestre, mesmo com a mão em carne viva e um pneu furado da sua cadeira de rodas, foi o início de uma trajetória gigante no paradesporto. Fernando se sagrou tetracampeão mundial (2009, 2010, 2011 e 2012), tricampeão parapanamericano, tetracampeão Sul-americano e tetracampeão brasileiro de Paracanoagem. Atualmente, sua grande paixão é o kitesoul, uma modalidade dentro do kitesurf adaptado. Desde 2016, Fernando tem se dedicado a esta modalidade, ajudando a difundir a prática e a melhorar o acesso das pessoas com alguma deficiência a ela. Ele pode ser constantemente nas praias nordestinas, especialmente, Piauí e Ceará. “O kite me despertou uma sensação diferente, de poder, de força, que poucas vezes senti na vida. Quando percebi que podia voar, senti como se tivesse ganhado um superpoder”, conta Fernando. De maneira um tanto empírica, Fernando está abrindo o caminho para o kitesurf adaptado no Brasil, criando uma prática diferente das que encontrou em outros países. “Existem três velejadores cadeirantes no mundo, mas que já praticavam kite antes de sofrerem acidente, são casos diferentes do meu. Sinto, porém, que eles têm certo receio de voar porque a pipa é ligada à cadeira, não ao trapézio, que fica preso na cintura, como é o padrão (e o caso de Fernando). Isso reduz a mobilidade”, argumenta.
Paralelamente à prática, Fernando segue militando com o esporte para que deficiência não seja sinônimo de incapacidade. “Me sinto nesse papel de abrir portas. Sou bonito, luto pela minha beleza e ela me favorece. Esse lance de ser deficiente e ser visto como coitadinho, como o corpo estranho, me incomoda”, desabafa.
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