Mulher com nanismo retoma estudos após trauma por preconceito

10/09/2022 Capacitismo, Deficiência Física, Notícias 0

Jucelaine Rosa trabalha de forma remota em um espaço adaptado.

Jucelaine Rosa abandonou a escola antes mesmo de concluir a 4ª série. Com nanismo diastrófico (leia também sobre nanismo aqui e aqui), caracterizado pela deficiência no crescimento e malformação das articulações, conta que sofreu com discriminação até de professoras e diretora, que diziam que ela não deveria estar ali. O preconceito provocou um trauma, que aos 45 anos vem superando com determinação: retomou os estudos, ampliou horizontes e ganhou uma carreira.

Ao aprender ler e escrever, Jucelaine deixou de fazer parte de uma triste estatística. Dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) mostram que em Campinas (SP), onde vive, há 15,3 mil moradores com mais de 16 anos considerados analfabetos absolutos.

A história de Jucelaine e também de Célia Maria, alagoana que retomou os estudos aos 60 anos de idade para buscar melhores oportunidades no mercado de trabalho, são inspiração nesta quinta-feira (8), quando é comemorado o Dia Mundial da Alfabetização.

Barreiras
Jucelaine deixou de frequentar a sala de aula aos 14 anos de idade. Os obstáculos, ela conta, eram diversos, isso desde os primeiros anos de estudo. “Quando eu completei 7 anos, foi difícil pra minha mãe, porque todas as escolas que ela ia falavam que lugar de deficiente era em casa e não na escola. Nunca tinha sido, até que a minha mãe conseguiu”.

Além de uma unidade na região do Parque Jambeiro, Jucelaine estudou em outras três escolas, e seja pela distância ou dificuldades de locomoção, sempre dependia de terceiros e de uma estrutura inexistente. “Foi bem complicado, porque tinha muita barreira na escola e eu usava carrinho. Não tinha acessibilidade pra mim, não tinha rampa, o banheiro era alto e eu tinha que pedir ajuda para as meninas da minha sala. Aí, eu parei de estudar”, recorda.

Volta aos estudos
Passados 20 anos, Jucelaine retomou os estudos por incentivo de uma psicóloga, familiares e amigas, algumas delas professoras. “Eu falei muito pra ela [psicóloga] que tinha trauma, eu tenho trauma até hoje, quando fala em escola eu fico bastante balançada ainda”, conta.

Jucelaine começou em 2021 o supletivo de forma remota e concluiu a primeira etapa em julho de 2022. Ela foi aluna do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) I, relativo ao período do 1° ao 5° ano do Ensino Fundamental, oferecido pela Fundação Municipal para Educação Comunitária (Fumec).

Neste segundo semestre, ela iniciou o EJA II, que contempla os anos finais da educação básica e os três do ensino médio. “Minha mãe sempre me apoiou muito, minha família toda. Ela ficou com medo de eu voltar a estudar, mas agora está me apoiando bastante. Ela só tem até a quinta série e o meu pai tinha até a oitava”.

Até 2008, Jucelaine trabalhava com bordados “ponto cruz”, quando veio a oportunidade de trabalhar registrada em uma empresa de RH, em Jaguariúna (SP). A empresa não possui espaço adaptado. “Eles optaram que eu trabalhasse em casa, eu recebo tudo por e-mail e faço o serviço pela internet”.

Para o futuro, Jucelaine espera continuar trabalhando em casa, onde possui móveis adaptados, com artesanato ou na área administrativa. “Eu acho importante [saber ler e escrever] porque você adquire conhecimento, pode ter uma oportunidade de trabalho e um estudo completo”, completa.

* Matéria de Giovanna Adelle e Larissa Pereira, g1 Campinas e Região

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