Resiliência é determinante diante dos desafios da inclusão e da diversidade

10/04/2024 Capacitismo, Depoimentos, Notícias 0

Natalie Schonwald, psicóloga e pesquisadora do tema PcD’s.

Otimismo, perseverança, controle dos impulsos e das emoções são itens que julgo importantes quando falamos em resiliência. Muitas vezes, quando precisamos passar por adaptações e queremos atingir ótimos resultados, necessitamos ter leveza e sabedoria para encarar o que vier pela frente. E, caso aconteça algum erro, que ele possa ser visto como um processo de melhoria e não como um fracasso.

De acordo com a neuropsicóloga Adriana Foz, Resiliência é a forma que o indivíduo tem de atravessar uma adversidade e se fortalecer por meio desta situação, utilizando-a de forma positiva. Então, se tivesse que definir minha vida em uma frase, devido à minha deficiência, certamente seria: “O impossível não existe”. Isso porque acredito que o que transforma minha história são fatores simples como, por exemplo, meu bom humor na hora de lidar com questões de saúde, quando brinco que não sou estrábica, e sim tenho uma visão de vários ângulos, ou quando preciso ficar no hospital e procuro sempre ter um bom relacionamento com a equipe hospitalar.

Também gosto de superar desafios, sejam relacionados aos aspectos profissionais e pessoais, ou aventuras como rapel, surf, entre outras atividades que adoro praticar. Busco mostrar que quando queremos, conseguimos! E que a deficiência não deve impedir qualquer pessoa de seguir sua vida.

E por falar em superações, umas das mais difíceis que passei certamente foi a superproteção familiar. Precisei lutar contra esse exagero de zelo e, assim, demonstrar meus potenciais com o objetivo de fazer com que a minha família acreditasse em minha capacidade. Isso demorou muito e ainda hoje não acontece integralmente. Minha autonomia foi afetada de um jeito que comecei a me desenvolver profissionalmente – e também em alguns aspectos pessoais – mais tarde do que a maioria das pessoas. Quando pedia ajuda para minha família, para me colocar, por exemplo, no mercado de trabalho, não recebia nenhuma resposta diferente de: ‘Não posso te ajudar, você não tem experiência’. Mesmo depois que a superproteção diminuiu, a família não dava credibilidade ao meu potencial. Nesse processo todo, a parte mais fácil foi o acesso a bons médicos, o que me permitiu estar nas boas condições que me encontro hoje.

Atualmente, a minha família me apoia, mas, para isso acontecer, tive que demonstrar muitas conquistas sem este apoio. Precisei provar muitas vezes que era capaz de conseguir meus objetivos pessoais e profissionais. Além da família, as pessoas que julgo ser as mais importantes e que me apoiam muito são meu marido, minha psicóloga, a neuropsicóloga, minha orientadora e outros professores e amigos. Com essas ajudas, fortaleço minha autoconfiança por meio de estratégias que valorizam mais minhas capacidades do que as dificuldades, assim, a chance de bons resultados é maior e gradualmente reforça minha autoestima.

No momento atual, sei que me realizar pessoalmente e profissionalmente é fazer uma palestra e saber que agradou ao público, ter um projeto que deu certo. Enfim, ver que minhas atitudes ou exemplos podem, de verdade, incentivar uma pessoa com deficiência a se sentir melhor ou ir em busca de um sonho.

Cuidar da saúde mental também precisa ser uma ação presente na vida de todo mundo, pessoas com ou sem deficiência. Por isso, hoje tenho uma rotina de saúde muito organizada. Quem sempre me incentivou a ir em busca dos meus objetivos foi minha terapeuta e, mesmo assim, confesso que não tinha muita vontade ou motivação, já que não acreditava em minhas capacidades. Então, em dezembro de 2023, comecei a fazer surf para ter mais um desafio. Este esporte me proporcionou uma melhora na qualidade de vida e exigiu um trabalho de exercício físico fora do mar.

Assim, voltei para a fisioterapia e agora trabalho com personal trainer duas vezes por semana e, uma vez por semana, realizo terapia e sessão com a neuropsicóloga. Além disso, tenho acompanhamento de um cardiologista e um neurologista. Todos esses acompanhamentos fazem com que minha saúde esteja em dia para que eu possa trabalhar.

* Artigo escrito por Natalie Schonwald, psicóloga, pedagoga e palestrante de inclusão e diversidade e autora do livro “Na cidade da matemática”. É pós-graduanda em Psicopedagogia pelo Instituto Singularidades (SP). Na área da educação e alfabetização, trabalha com os anos finais da Educação Infantil e iniciais do Ensino Fundamental I. Nesta área da educação, Natalie completa seu trabalho escrevendo artigos para o site A Escola Legal. A profissional também faz parte da direção da Associação dos AVCistas do Brasil – uma organização comunitária de acolhimento às vítimas de AVC e seus familiares. Como atleta, também participou do mundial de adestramento paraequestre em 2003 – pratica esporte desde seus 9 anos. Atualmente, é embaixadora da equipe surfe adaptado feminino. Após um AVC com 8 meses, enfrentou um caminho de superação. Sua história é marcada não apenas pela adversidade, mas pela resiliência e conquistas que a transformou em fonte de inspiração, destacando a importância da inclusão e da diversidade em todas as suas formas. Para contato, acesse @pedagoga_nati.

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