Viralisa vídeo de filho com paralisia cerebral na chuva com seu pai
“Enquanto Deus me der forças, vou continuar fazendo isso”, diz o autônomo Stanley Moreira da Silva, 37. Ele e o filho Wesley de Lima Moreira, 18, emocionaram internautas do Brasil inteiro com um vídeo em que aparecem tomando banho de chuva (assista aqui). A gravação, feita na ultima quinta-feira, 21, faz parte da rotina da família cearense, que vive em Jaguaruana, 173,1 km de Fortaleza.
Wesley nasceu totalmente saudável, mas aos quatro meses de vida teve uma grave infecção intestinal e, posteriormente, uma parada cardiorrespiratória que o deixou em coma por 15 dias. “Nesse tempo o médico já dizia que ele ia ter sequelas, então quando ele acordou ficou com paralisia cerebral pela falta de oxigênio no cérebro”, relata a mãe do garoto, a dona de casa Sílvia Helena de Lima, 36.
Depois do coma, Wesley perdeu os movimentos do corpo e da fala, mas, segundo a família, interage com o olhar. “Nunca tratei ele diferente, sempre agimos como se ele fosse uma criança normal”, diz a mãe. “Ele entende é tudo, a gente conversa, eu e a mãe dele já sabemos pelo olhar quando ele quer alguma coisa”, complementa Stanley, conhecido na cidade como “Moreno”.
E Stanley ainda exemplifica a comunicação com o filho, quando o jovem quer, por exemplo, passear de bicicleta. “Vamos supor, se ele quiser ir pra rua, ele já olha pra saída. Hoje [segunda-feira, 26] ele ‘disse’ que não queria, aí perguntamos se era a casa da tia, e ele foi pra lá com a Sílvia. A gente aprende muito, ele que ensina!”, afirma.
Banho de chuva, bicicleta e outras histórias
Tomar banho de chuva com o pai é um costume de Wesley, mas Sílvia conta que não esperava tanta repercussão. “Quinta deu aquela chuva grande, ele [Wesley] dá mo valor. Coloquei nas redes sociais e nunca imaginei isso, todo mundo aqui na cidade já conhece a gente. Só hoje já recebi ligação de gente até de outros estados me parabenizando. E eu nem sei como pegaram meu número”, relata a mãe, aos risos.
Moreno também acabou sendo pego de surpresa, porque não gosta de tirar fotos nem de “aparecer”, mas acaba deixando a mulher fazer os registros por causa do filho. “Eu não gosto dessas coisas, ela disse que era foto, aí eu disse: ‘Wesley, ela tá é filmando’. E ele ficou rindo, mas achei que ia ser só mais uma postagem. Agora já tem mais de 600 mil visualizações”, contabiliza o pai, que administra, com a mulher, o perfil de Wesley no Facebook.
A administração dos pais na rede social do filho, no entanto, é só técnica, pois o conteúdo é todo mediado por Wesley, garante Moreno. “Uma pessoa manda uma solicitação, a gente mostra e vai dizer quem é. Se ele “disser” que aceita, tudo bem, mas se ele não quiser a gente exclui. Se você manda uma mensagem, eu leio em voz alta. Quando for pra responder, ele tem que concordar, senão mudamos tudo de novo”, detalha.
Além dos banhos de chuva, uma das atividades preferida de Wesley é andar de bicicleta com Moreno. “Já adaptei duas [bicicletas], uma só para a cidade e tenho outra para quando vou pras comunidades no interior, com outros ciclistas”, conta o pai.
No último passeio, pai e filho fizeram 55 km, quando foram para Itaiçaba durante uma manhã. Moreno prefere fazer os passeios durante o dia para que os dois não precisem dormir fora. “A gente vai e vem, o essencial para ele é passear. O negócio dele é tá “batendo perna”. Aí eu digo: ‘Wesley, e tua pernas é quem?’. Aí ele olha para mim e acha graça. Oura, é isso que me motiva, enquanto Deus me der forças vou fazer isso”, diz ele.
Dedicação
Wesley recebe atendimento de um fonoaudiólogo em um centro especializado de Juaguaruana. A primeira cadeira de rodas foi dada à família pela Prefeitura em 1997 e, de lá para cá, o equipamento recebeu duas adaptações – uma feita em um hospital e a mais recente por Moreno.
O pai trabalha consertando bicicletas e, além disso, a renda familiar é complementada por uma pensão de Wesley, garantida por conta da deficiência dele. O casal tem outro filho, Mikael, 19, que trabalha em uma empresa de redes.
Nem o dinheiro curto desmotiva Moreno, que ainda pretende fazer os passeios de bicicleta com o filho por muitos anos. “Quando o Wesley era pequeno, tinha um outro rapaz especial mais velho aqui [na cidade], eu via a família na missa sem ele. Olhei para minha mulher e disse: ‘Sílvia, nunca vamos deixar o Wesley no fundo de uma rede’. Eu me agarrei a isso”, explica.
Quando recebe conselhos para “maneirar”, por conta do peso do filho e do cansaço do corpo, ele é enfático: “tenho que aproveitar enquanto ‘to’ podendo”. “Eu sei que os passeios vão acabar um dia, até digo isso pro Wesley, mas eu sempre falo: ‘Não se preocupe, se não der pra passear de bicicleta, a gente vai andando na cadeira de rodas mesmo’ “, planeja.
A explicação pra dedicação da família, o próprio pai faz questão de fazer os outros entenderem. “Eu digo que to ‘veinho’, mas ele aí ele sorri pra mim. O sorriso dele cativa todo mundo. O povo aqui todo conhece, se a pessoa não conhece o Wesley não é de Jaguaruana”.
* Matéria da repórter Amanda Araújo, do Jornal O Povo
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