Fibromialgia causa dores musculares terríveis e efeitos psicológicos
A fibromialgia, ainda pouco conhecida do público em geral, não se enquadra na definição clássica de deficiência. No entanto, ela pode prejudicar a qualidade de vida e o desempenho profissional do cidadão, motivos que plenamente justificam o paciente ser levado a sério em suas queixas. Mas, o que é exatamente a fibromialgia e quais são essas queixas? De acordo com a doutora Inês T. V. e Melo, médica anestesiologista com área de atuação no tratamento da dor e na medicina paliativa, “o diagnóstico de fibromialgia se baseia na pesquisa dos pontos de dor (trigger points), de acordo com o padronizado pelo Colégio Americano de Reumatologia, desde 1990”. Ela explica que o Colégio identificou dezoito pontos de dor no corpo e a fibromialgia é considerada quando o paciente apresenta dores crônicas e permanentes por, no mínimo três meses, em ao menos onze desses dezoito pontos.
“O exame clínico precisa ser bem feito, com uma boa coleta de vida do paciente, e que se exclua qualquer fator orgânico que o paciente tenha”, afirma a doutora Inês Melo. A fibromialgia é considerada uma síndrome porque engloba uma série de manifestações clínicas como dor, fadiga, indisposição e distúrbios do sono. “É necessário que o paciente seja acompanhado por uma equipe multiprofissional para que se possa controlar a dor física, emocional, social e espiritual. Exige-se uma vontade grande de querer ficar bem por parte do paciente e o médico precisa reforçar a importância do suporte psicológico, físico e atividade física regular”, orienta a médica. A aposentada Conceição Frota, paciente de fibromialgia, há mais de dez anos, afirma, em depoimento para Sem Barreiras que “me sinto uma velha com muitas limitações e estou me tratando de depressão, no momento” (leia aqui).
A fibromialgia está presente no mundo todo, com prevalência nas mulheres. Para cada homem acometido pela síndrome, dez mulheres o são, em geral na meia idade. No entanto, cerca de 25% dos pacientes afirmam sentir dores desde a infância e adolescência. Inês Melo acredita que a vida moderna, agitada e impondo cada vez mais pressão nos jovens explique os casos de fibromialgia na juventude. Em termos de população mundial adulta, de 2 a 4% sofrem com a síndrome. Deste número, estima-se que 20 a 40% dos pacientes apresentem depressão. Inês Melo, contudo, alerta que nem todos os quadros de dor crônica representam fibromialgia. Segundo ela, cerca de 30% da população sofrem com essas dores, mas somente o exame clínico irá determinar a ocorrência ou não da síndrome. A fibromialgia não tem uma cura definitiva, porém pode ser controlada e amenizada. A médica afirma que a fibromialgia pode ser controlada com acompanhamento médico, fisioterápico, psicológico, atividades físicas e, se necessário, uso de analgésicos. “Para isso, depende do total envolvimento do paciente”, complementa.
Esse envolvimento se dá, principalmente, na questão emocional. Uma das queixas dos pacientes é em relação à perda dos efeitos dos remédios e também a um certo ceticismo da classe médica. “Um clínico me disse que eu tenho depressão, por isso sinto dor no corpo. Ele não acredita na fibromialgia”, relata Conceição Frota. Para a médica da dor, os sintomas de depressão e ansiedade e ainda uma possível falha do paciente em fazer atividade física ou terapia podem passar a impressão de que os remédios realmente não fazem mais efeito. Quanto ao ceticismo, Inês Melo acredita que a fibromialgia é um diagnóstico difícil. “[Os pacientes] São submetidos a muitos exames até se chegar a um diagnóstico”, diz ela. Para aqueles que se identificaram com os sintomas apresentados, Inês Melo recomenda que se procure um bom clínico, um reumatologista, um ortopedista ou neurologista. “Esses profissionais encaminharão, se necessário, para o clínico de dor por ele ter habilidade em terapias farmacológicas, opióides fracos ou fortes, antidepressivos, neurolépticos e bloqueios anestésicos que ajudarão a desativar os pontos de gatilho e aliviar a dor, às vezes, de forma mais rápida, afirma.
Outra característica da fibromialgia são seus efeitos na família e nos seus relacionamentos pessoais. A dona-de-casa Maria de Lourdes Ferreira reclama sem parar há 27 anos. A dor misteriosa que a persegue quase destruiu a família. “Dificilmente, tem um dia que ela diz que está bem. Nunca. Dor de cabeça, dor nas pernas, dor no estômago”, lamenta o marido de Maria de Lourdes, José Alves Ferreira. Ela afirma que “pensa que vai morrer, que não vai suportar”. A família já gastou uma fortuna com remédios caríssimos de R$ 85 a R$ 90, segundo o marido. O filho deles, Gustavo Alves Ferreira Neto, admite que chegou a desconfiar de tanta dor.
No entanto, Maria de Lourdes descobriu que não sofria sozinha. Marisa Cortez, outra paciente, conta que sua dor começou na barrida. “Mas, da barriga ela foi se estendendo para o corpo inteirinho”, explica. Mais uma paciente, Dalva de Fátima Rocha, afirma que não permitia que ninguém a tocasse “porque doía tudo”. “Quem estava ao redor da gente falava que era psicológico, que eu estava fazendo isso para chamar a atenção das pessoas”, continua Marisa Cortez. Não bastasse o sofrimento físico, durante anos, estas mulheres foram vítimas da desconfiança e do descaso, principalmente de quem deveria ajudar. “É para falar francamente? Um falava que eu tinha Aids. Outro falava que eu tinha tuberculose. Outro falava que eu estava com início de câncer”, desabafa Marisa. Ângela Spíndola passou por 61 médicos até chegar a uma clínica de dor e receber o diagnóstico de fibromialgia.
O encontro com outras pessoas que sofrem da fibromialgia pode ser feito, em Fortaleza, no Garce (Grupo de Apoio aos Pacientes Reumáticos do Ceará). Segundo a fanpage do Grupo, no facebook (acesse aqui), ele foi fundado em 21 de julho de 2003 por Marta e Marco Azevedo, e se caracteriza por ser uma instituição voltada ao voluntariado. “Nossa missão é apoiar e estimular os pacientes reumáticos, familiares e a comunidade em geral, da criança à melhor idade, à adesão ao tratamento e a descobrirem opções de enfrentamento da doença através da informação, educação continuada, motivação, apoio psicológico e resgate de autonomia”. Atende à capital e interior. Os interessados podem telefonar para (85) 3241.2428 ou acessar https://grupogarce.blogspot.com.br/.
Um pouco de história – No passado, pessoas que apresentavam dor generalizada e uma série de queixas mal definidas não eram levadas muito a sério. Por vezes, problemas emocionais eram considerados como fator determinante desse quadro ou então um diagnóstico nebuloso de “fibrosite” era estabelecido. Isso porque se acreditava que houvesse o envolvimento de um processo inflamatório muscular, daí a terminação “ite”. A partir da década de 80, pesquisadores do mundo inteiro têm se interessado pela fibromialgia. Vários estudos foram publicados, inclusive critérios que auxiliam no diagnóstico dessa síndrome, diferenciando-a de outras condições que acarretem dor muscular ou óssea. Esses critérios valorizam a questão da dor generalizada por um período maior que três meses e a presença de pontos dolorosos padronizados.
Diferentes fatores, isolados ou combinados, podem favorecer as manifestações da fibromialgia, dentre eles doenças graves, traumas emocionais ou físicos e mudanças hormonais. Assim sendo, uma infecção, um episódio de gripe ou um acidente de carro, podem estimular o aparecimento dessa síndrome. Por outro lado, os sintomas de fibromialgia podem provocar alterações no humor e diminuição da atividade física, o que agrava a condição de dor.
Pesquisas têm também procurado o papel de certos hormônios ou produtos químicos orgânicos que possam influenciar na manifestação da dor, no sono e no humor. Muito se tem estudado sobre o envolvimento na fibromialgia de hormônios e de substâncias que participam da transmissão da dor. Essas pesquisas podem resultar em um melhor entendimento dessa síndrome e, portanto proporcionar um tratamento mais efetivo e até mesmo a sua prevenção (informações históricas retiradas do site www.fibromialgia.com.br).
2 Comentários
Achei bastante interessante, tenho fibromialgia e ñ sabia até que conversando com minha irmã, ela me indicou uma reumatologista Dra. Vanessa. Hoje timo medicamento para dor e estou me sentindo bem melhor!!!
Fibromialgia faz doer as costelas Também?