Movimento das pessoas com deficiência perde Nadja de Pinho Pessoa
O movimento das pessoas com deficiência (PcD) do Ceará ficou órfão na noite dessa sexta-feira, 07, com o falecimento da professora e sua principal militante, Nadja de Pinho Pessoa, 56 anos. Nadja era tetraplégica em função de um acidente de carro aos 19 anos ter lesionado sua medula espinhal. A morte de Nadja foi ocasionada por complicações decorrentes de uma infecção, de acordo com a também militante do movimento das pessoas com deficiência, Ana Beatriz Praxedes, amiga de Nadja há mais de 30 anos. A presença de Nadja em eventos, debates e discussões do tema era, praticamente, obrigatória. Em setembro do ano passado, ela compôs a mesa inaugural do I Fórum Sem Barreiras de Acessibilidade e Cidadania, compartilhando sua experiência e seu trabalho a frente da Coordenadoria de Pessoas com Deficiência (Copedef), da Secretaria de Direitos Humanos da Prefeitura Municipal de Fortaleza, na gestão Luizianne Lins.
A Copedef foi apenas uma, dentre várias, instituições que Nadja compôs ou ajudou a criar. Além dela, foi uma das criadoras do Movimento VIDA e ainda colaborou para a criação do Conselho Municipal dos Direitos às Pessoas com Deficiência (Condefor), do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência (Cedef) e da Associação dos Deficientes Motores do Ceará (ADM-CE). Segundo o publicitário e grande amigo de Nadja, Flávio Arruda, ela fez plantão na Assembleia Legislativa para conseguir a aprovação do Cedef. “Ela passou quase 12 horas, correndo os gabinetes, para fechar a negociação que fez nascer o conselho. Tive a honra de ser eleito com ela na primeira composição do órgão”. Flávio destaca também o lado pessoal de Nadja e sua constante luta para não deixar a deficiência defini-la. “Ela ensinou a muitas pessoas, como eu, que lesão na medula espinhal não é uma sentença. Nadja foi uma mestra. Ela me ensinou tudo o que sei sobre muitas coisas. Fundamos um movimento, o Movimento VIDA, e lutamos lado a lado em várias causas. São tantas lutas que não dá para contar”, afirmou Flávio.
O papel de mestra também foi lembrado por Ana Beatriz Praxedes, que substituiu Nadja na Copedef. Segundo ela, “Nadja era nossa primeira ministra, uma parte dos avanços nos direitos das pessoas com deficiência e de inclusão no Ceará e no Brasil se deve a ela”. Um desses avanços foi a gratuidade para os deficientes físicos no transporte público de Fortaleza. Para o atual coordenador da Coordenadoria de Pessoas com Deficiência, Emerson Damasceno, a morte de Nadja deixa uma lacuna. “Ela era uma inspiração, pois sempre esteve em lutas junto com as pessoas com deficiência de Fortaleza. A trajetória dela se confunde com as principais bandeiras do movimento das pessoas com deficiência do Ceará”, disse. Daniel Melo, conselheiro municipal dos direitos das pessoas com deficiência e presidente da ADM-CE, trabalhou com Nadja durante cinco anos e destacou a determinação da professora. “Ela era uma pessoa que nos representou por ser referência na luta do movimento. Determinada e que estava sempre com um sorriso no rosto. Ela sempre estava junto com a gente”, relembra.
A influência de Nadja vem de longe. Há mais de duas décadas, ela ajudou o médico João Alberto Gurgel a criar a Associação dos Deficientes Motores do Ceará (ADM-CE). A filha do médico, Solange Raupp Gurgel, relembra com saudade dos tempos de convivência de Nadja com seu pai. “Fica o legado de uma grande guerreira, a nossa querida Nadja de Pinho Pessoa, que partiu para o braço do pai nos deixando muitas saudades. Descanse em paz, Nadja”, disse ela. Solange e Nadja ainda atuaram em outras lutas de acessibilidade, como na Praia de Iracema, ao lado de autoridades como o ex-vereador de Fortaleza, Deodato Ramalho. A saudade de Solange é compartilhada por muitas outras pessoas, amizades conquistadas por Nadja ao longo de sua vida. Um exemplo é a professora aposentada da UFC, Célia Regina. “Meu coração está destroçado. Foram 37 anos de amizade, em que aprendi muito com ela”, lamentou Célia, que se referia à Nadja como “hino de amor à vida”. As duas tinham em comum, dentre todas coisas, a fisioterapeuta Neuma Silveira, que costumava reunir seus pacientes em restaurantes, bares e cafés para horas de conversa animada e aprendizados.
A repercussão do falecimento de Nadja nas redes sociais foi imediata. Diversas pessoas se manifestaram, deixando suas mensagens de carinho, saudade e homenagem a ela. Fátima Dourado, médica e criadora da Casa da Esperança, entidade que abriga pessoas autistas, escreveu: “Mulher inteligente, combativa, humana. Uma extraordinária guerreira do bem. Tive a sorte e a honra de conhecê-la e partilhar com ela um tempo, perspectivas, afetos, lutas e sonhos. Nadja teve uma vida curta e viveu grande parte dela depois de uma lesão medular, mas isso nunca limitou os movimentos da sua mente poderosa nem da sua alma plena de amor pela vida e de compromisso com a justiça e a solidariedade”. Zilsa Santiago, professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFC e criadora do Movimento UFC Inclui também deixou homenageou a amiga: “Todas as flores do mundo para esta guerreira que nos deixa. Tive o prazer de conhecer desde muito jovem e conviver, principalmente na fase adulta, com Nadja Pinho. Mulher incansável. Sorriso nos lábios, doce firmeza. Fortaleza começou a mudar pelo esforço dessa mulher e por sua própria vida. Agradeço por ter me convidado a participar do Movimento VIDA, começo de tudo que faço hoje. Nadja combateu um bom combate, como diz São Paulo. Agora livre de dores e preocupações, com a certeza de vida plena, se encontra com seus pais, família amada”.
O professor, poeta e radialista Henrique Beltrão, criador do programa Todos os Sentidos, da Rádio Universitária, contou que irá dedicar o programa da próxima quarta-feira, 12, à Nadja Pinho. “Os interessados podem enviar poemas, frases, canções ou pequenas passagens de sua história com Nadja, que serão lidas no programa ou ainda podem telefonar e falar ao vivo. Faremos nossa homenagem a essa grande guerreira e mulher de lutas”, disse ele. O programa vai ao ar às 14 horas. Sem Barreiras contará, nos próximos dias, com um artigo escrito por Ana Beatriz Praxedes sobre sua relação de amizade e lutas com Nadja. Fica aqui, para encerrar, a singela homenagem e agradecimento de Sem Barreiras e seu editor por tudo o que Nadja de Pinho Pessoa representou e conquistou. Sua história jamais será esquecida.
* Este texto foi escrito por Victor Vasconcelos, com dados e informações retiradas do jornal O Povo deste sábado e das redes sociais.
2 Comentários
A Nadia foi minha colega de turma no Colégio Cearense e morávamos no Bairro de Fatima . Sempre foi uma excelente aluna e seu sonho era ser arquiteta. Eu admirava muito seu modo de encarar a vida e a força que sempre teve de lutar contra as adversidades. Que Deus a acolha em sua morada. ????????
Minha Grande Amiga Nadja há 37 anos (Hino de Amor A Vida) nos braços de Deus! Estou coração ????mas foi uma linda missa de corpo presente com participação de muitos amigos deficientes físicos auditivos visuais, dois intérpretes de LIBRAS, médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogo, familiares, tocada violino, acessibilidade e respeito portadores deficiência como Nadja passou uma vida , reinvindicando, fazendo ser cumpridas Leis como fundadora Movimento V.I.D.A! Merecida Homenagem que todos continuem esse trabalho, Missão: Melhor qualidade de Vida para pessoas com
Necessidades especiais ❤️????????????