Pai descobre autismo após diagnóstico do filho: “Murilo veio esclarecer”
O quadrinista Fulvio Pacheco, coordenador da Gibiteca de Curitiba, é pai de Murilo, uma criança autista de 9 anos. Acompanhando o tratamento dele, percebeu que algumas características típicas de portadores do Transtorno do Espectro Autista também eram encontradas em outros membros de sua família.
A surpresa maior, no entanto, aconteceu durante as conversas com a psicóloga do filho, quando ele descobriu que também era autista, fato confirmado em um diagnóstico posterior.
A cada 160 crianças nascidas uma é autista, segundo estimativa da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Fulvio, que gosta de se expressar por imagens, transformou esse relato autobiográfico em uma história em quadrinhos, “Relatos Azuis”, publicado pela editora Ursereia.
Confira o depoimento de Fulvio à reportagem do UOL:
O Murilo é autista clássico. Então, nos primeiros anos de vida, ele não andava, não falava. Ele só foi falar com cinco anos e só foi andar com mais de dois anos. Então foi fácil descobrir que ele tinha autismo.
Mas, quando ele tinha dois anos e pouco, ele teve um diagnóstico errado, que fez ele perder um tempo precioso, já que poderia já ter iniciado o tratamento antes. Nesse meio tempo entre esse primeiro diagnóstico, equivocado, e o definitivo, correto, a gente pensou que ele poderia ser surdo.
No início, susto e dor
Um ano depois, ele teve o diagnóstico correto e minha esposa se abalou muito, entrou em uma depressão muito grande. Foi até internada. Depois que ela voltou da internação, aí que ela correu atrás de tratamento para o Murilo. Esse primeiro momento foi muito doloroso.
O Murilo, então, passou a frequentar um centro para autista aqui em Curitiba, o Conviver. Nessa época, ele tinha bem o estereótipo do autista: ficava na frente da televisão, eu chegava perto, minha esposa se aproximava e ele nem olhava.
E aí ele começou a ter uma evolução muito grande por causa do tratamento que ele começou a fazer.
Nesse centro tinha psicopedagogo, musicoterapeuta… Tinha todos os tratamentos. Em cada período, um tratamento teve uma importância maior. Na época que ele tinha problema com a fala, por exemplo, o tratamento com uma fonoaudióloga era mais importante. Agora, acho que é a psicóloga que está mais ajudando, está fazendo uma diferença maior, digamos assim.
A descoberta
Minha esposa começou a ler muito sobre o assunto depois do diagnóstico do Murilo. E aos poucos ela foi identificando não só eu, mas meu pai e meus irmãos como autistas.
Uma vez, a gente teve uma entrevista com a psicóloga do Murilo e ela começou a falar sobre as características dele… E caiu a ficha. Daí eu fiquei meio ano conversando com a chefe dessa psicóloga, que era a dona do espaço. E ela também ficou interessada em mim, no meu caso. Até porque era uma coisa que ela disse que via constantemente ali, dos pais de autistas serem também terem as características de autismo.
“Minha família inteira, sempre achei tinha um jeito de ser meio estranho assim, sabe? O Murilo que veio para esclarecer a dúvida do que era esse jeito estranho que todo mundo tinha”, contou.
A escolha por uma escola pública
A educação também sempre foi algo complicado. Ele passou por várias escolas. E em todas foi complicado. E chegamos a conclusão que a melhor escola, o melhor formato para ele, era a escola municipal.
Os professores aqui de Curitiba, que são das escolas municipais, eles têm uma formação. Tem um setor na prefeitura que faz uma formação dos professores da rede municipal e é uma coisa que não acontece nas escolas particulares. A gente achava antes que na escola pública seria mais difícil, mas no fim das contas, por causa desse trabalho que é feito com os professores municipais, ocorre justamente o contrário.
Hiperfoco e expressão por imagens
O Murilo é um autista clássico, mas eu tenho um grau mais moderado, o que antes se chamava Síndrome de Asperger. E uma das minhas características é ter um hiperfoco. Eu sou muito obcecado com meu trabalho. E essa obstinação me ajudou a desenvolver projetos legais na Prefeitura de Curitiba, tanto na Secretaria de Educação e quanto na Secretaria da Cultura, onde trabalho atualmente.
Além de coordenar a Gibiteca de Curitiba, eu participo da UPPA (União de Pais pelo Autismo) e também sou quadrinista. O autista se expressa melhor por imagens.
E as apresentações que eu fazia se tornaram quadrinhos, porque eu achava mais fácil explicar aquilo com desenhos. Comecei fazendo o blog (acesse aqui) e a partir do blog surgiu, junto com a UPPA, a ideia de transformar o blog em uma publicação. E aí nasceu o “Relatos Azuis”.
* Matéria de André Carvalho, do Portal UOL
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