Duas mãos femininas seguram dois frascos de plásticos com solução líquida.

Pais são iludidos com substância milagrosa contra o autismo

02/06/2019 Deficiência Intelectual, Notícias 0
Foto de uma mulher loira, sentada em uma mesa da sala de sua casa. Ao fundo, à direita, um pequeno jarro de planta e, à esquerda, uma televisão.

Jornalista Andréa Werner é mãe de um garoto autista e faz parte do grupo de mães que vem denunciando o falso medicamento.

Pais de crianças com autismo estão sendo enganados pela promessa de efeitos milagrosos de uma substância parecida com a água sanitária, chamada “MMS”. A ciência ainda não encontrou a cura para o autismo e essa substância química não tem qualquer valor medicinal, segundo especialistas. As informações são do Fantástico.

O que é o MMS?
O MMS “(mineral miracle solution”, em inglês) foi criado pelo americano Jim Humble, há mais de vinte anos. Humble é ex-membro da Cientologia – um grupo religioso dos Estados Unidos. Ele batizou a mistura de “solução mineral milagrosa” e disse que poderia curar muitas doenças, como câncer, malária, diabetes e autismo.

O MMS contém clorito de sódio, utilizado para branquear produtos e descolorir papel, com características parecidas à da água sanitária. O produto também é composto por ácido clorídrico, usado na indústria química na obtenção de corantes e no polimento de metais.

“A mistura dessas duas substâncias forma um outro composto, o dióxido de cloro, usado como descolorante e desinfetante”, explica Mauricio Yonamine, professor de toxicologia na faculdade de ciências farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP).

Se ingerir a solução, “a pessoa pode ter uma irritação local ou até no esôfago. É um material tóxico. Nenhuma dessas substâncias é um medicamento em lugar nenhum do mundo”, diz.

Dependendo da dose ingerida, o MMS também pode prejudicar a absorção de ferro e outros metais importantes para a saúde humana.

Substância proibida
Desde 2010, o Departamento de Saúde dos Estados Unidos adverte os consumidores sobre os danos graves que a solução pode causar e alerta que, no caso de tratamento para autismo, o produto não se mostrou seguro ou eficaz. Mas mesmo assim, sua utilização foi propagada em diversos países.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização, a distribuição e o uso do MMS em território nacional para este fim.

Mas, a proibição tem sido ignorada e a substância é amplamente divulgada e vendida em fóruns pela internet.

De acordo com Ronaldo Gomes, gerente geral de fiscalização sanitária da Anvisa, “no ano passado, a Anvisa já tomou o cuidado de suspender todos os sites que comercializavam esse produto naquele momento e publicar uma resolução proibindo a comercialização, a distribuição e o uso dessa substância em território nacional para este fim”.

A Anvisa diz, ainda, que vai cancelar licenças de farmácias que estão ignorando a proibição e continua fiscalizando anúncios na internet. A agência afirma que já bloqueou mais de 200 anúncios sobre esse produto.

Grupos de mães estão unindo forças na internet para tentar conter a difusão de informações falsas sobre o MMS e a cura para o autismo.

Homem de mai idade, calvo, de óculos, sentado em uma mesa, conversando com alguém. Ao fundo, uma estante de livros.

O neuropediatra Salomão Schwartzman afirma que autismo não tem cura e que os pais têm precisam ter mais bom senso para não prejudicar a condição de seus filhos.

Autismo não tem cura, mas tem tratamento
Segundo o coordenador da Câmara Técnica de Pediatria e conselheiro do Conselho Federal de Medicina (CFM), Sidnei Ferreira, não existem evidências científicas que comprovem a eficácia dessa substância para qualquer tratamento médico.

“Por isso, ela não é liberada no mundo, em nenhum país. Quem prescrever está incorrendo num crime”, diz Ferreira.

Pais que têm dificuldades de fazer a criança beber o MMS por causa do gosto forte estão aplicando a solução, inclusive, por via retal. Uma mãe chegou a postar numa rede social que, depois de fazer isso, o filho estava “eliminando vermes” nas fezes.

“Lamento informar essa pessoa, mas isso são pedaços da mucosa intestinal”, explica Schwartzman. “É um efeito danoso da substância no intestino dessas crianças. É mais uma evidência de que não deve usar isso, de jeito nenhum. Essa relação que se faz entre parasitose intestinal e autismo não existe”, esclarece o neuropediatra.

“O autismo é uma condição que não tem cura”, lembra Schwartzman. “Existem razões para entender por que as famílias fazem isso, mas é necessário ter o mínimo de bom senso, pois você acaba utilizando técnicas que não só não melhoram como pode agravar [o transtorno]”, afirma.

Ele acrescenta que o autismo tem, sim, tratamento. “O que tem eficácia comprovada é terapia comportamental. Terapias com psicólogos comportamentais e fonoterapia são fundamentais”, diz.

* Matéria do Portal G1. Veja vídeo da matéria aqui.

Receba um e-mail com atualizações!

Assine e receba, gratuitamente, nossas atualizações por e-mail.

Eu concordo em informar meu e-mail para MailChimp ( more information )

Nós jamais forneceremos seu e-mail a ninguém. Você pode cancelar sua inscrição a qualquer momento.

Compartilhe:

Sem nenhum comentário

Deixe o seu comentário!